Inflação dos combustíveis “vai rebentar” com os negócios
14-10-2021 - 17:26
 • Isabel Pacheco

Automobilistas e empresários fazem contas à vida com o aumento em flecha do preço dos combustíveis no último ano. Em Braga, já há quem pense encostar o carro, outros temem pelo futuro dos seus negócios.

Dez euros, seis litros de gasóleo. É quanto Maria Campos abasteceu, esta quinta-feira, o carro num posto no centro de Braga. A gasolina, essa, marcava 1,99 euros, mais três cêntimos que na semana passada.

Uma subida de preços que Maria vai sentido semana a semana e que a leva a pensar em alternativas.

“Se calhar vou andar menos de carro, mas é o que é. Não tenho muita forma de contornar. Ou, então, passar a andar mais a pé”, afirma a automobilista.

E se os efeitos já se sentem diretamente nos bolsos dos consumidores na hora de abastecer o carro, outros vão refletir-se no preço dos bens essenciais nos próximos tempos. No pão-quente de Salete Ferreira, os fornecedores já deixaram o aviso.

“O feedback dos fornecedores, qualquer um, é que vai haver um aumento de 30%. Isto é muito grave”, alerta a empresária.

Salete Ferreira dá o exemplo do café, que custa em média 0,80 cêntimos e pode subir para um euro.

“Já o pão vai, facilmente, para os 0,15 cêntimos”, explica. “Isso é um ciclo, uma bola redonda. Se um aumenta, isto vai rebentar por todas as costuras. Vai ser pior que a pandemia”, antecipa a empresária.

E desde o início da Covid-19 que os preços não param de subir na loja de utilidades de Rui Basílio. O aumento dos combustíveis é mais uma “facada” no negócio, prevê o empresário bracarense.

“Com o mundo dos transportes a praticar estes preços, não sei onde isto vai chegar. Num produto de 10 euros pode haver três ou quatro euros de aumento. Um chocolate de um euro pode ter uma subida de 0,15 cêntimos.”

Sem poder alterar os preços, já tabelados, estão os taxistas. Ainda, assim, o aumento dos combustíveis é a preocupação entre colegas. Nelson já pensa em estratégias para poupar gasóleo entre serviços.

“Tem que se fazer um ajuste nos serviços. Circular o mínimo possível”, adianta o taxista, que já não regressa sempre ao mesmo ponto de partida. “Quando vou do centro de Braga para a universidade. Já não volto. Fico lá.”

Safa-se quem vive perto da fronteira. É o caso de José Fernando que mora em Chaves. É funcionário de uma distribuidora de bens alimentares com sede em Espanha. A empresa pode vir a “passar a perna” a muitas portuguesas, admite o flaviense.

“Em Espanha também vai haver aumento [do preço dos combustíveis], mas não tem nada a ver com o preço daqui. Se a empresa não fosse espanhola… Há empresas em Portugal que se calhar vão fechar portas. Já ouvi dizer que sim”, remata José Fernando.

O preço da gasolina ultrapassou, pela primeira vez em Portugal, os dois euros em alguns postos de abastecimento e na próxima semana deverá haver novos aumentos.