Correu o mundo o vídeo do relato de Nuno Matos (Antena 1) no desempate por penaltis na qualificação de Portugal para os quartos de final do Europeu de futebol. São momentos de grande intensidade narrativa, capazes de produzir toda a emoção que o momento exigia, que ganha uma dimensão superlativa na comunicação sem imagem, reafirmando a tremenda força da Rádio. Nuno Matos é um dos melhores, a par de Rui Viegas e João Fonseca (Renascença) e João Ricardo Pateiro (TSF). Criativos, com uma linguagem próxima e comovente. Gente que honra os legados de Ribeiro Cristovão, Jorge Perestrelo, Romeu Correia ou Artur Agostinho, só para citar alguns.
André Ventura apareceu nos Media a convocar os polícias para comparecerem nas escadarias e nas galerias da AR, para assistirem à rejeição de uma iniciativa do Chega que pretendia aprovar um subsídio de missão enquanto Governo e representantes das corporações policiais continuam em conversações. Os Sindicatos mais representativos rejeitaram de imediato o convite. Em democracia, é inaceitável que um partido pretenda mobilizar as forças de segurança para os fins políticos que lhe convêm.
Nuno Rebelo de Sousa, o Dr. Nuno, foi à CPI exibir o seu silêncio. Mais um para juntar a Lacerda Sales e ao advogado da mãe das gémeas. Perante as perguntas, e mesmo algumas considerações contundentes feitas pelos deputados, o filho do Presidente manteve-se calado. Nem mesmo quando foi lançada para a “conversa” a questão da Seguradora das crianças, o Dr. Nuno proferiu qualquer declaração.
O Chega forçou, primeiro, o adiamento da audição da Procuradora no Parlamento, abstendo-se agora na aprovação feita por todos os outros partidos para a presença de Lucília Gago na Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. O Dr. Ventura diz que há uma “perseguição política aos órgãos de justiça com a conivência de parte da comunicação social”. Trata-se de uma interferência do poder político na Justiça? A PGR já confirmou a sua presença e certamente vai à Comissão discutir o seu Relatório de Atividades, como decorre da Lei, não mais do que isso.
Esta quinta-feira (4) os britânicos confirmaram o que as sondagens refletiam: colapso dos Conservadores, vitória retumbante do Labour, assentos parlamentares para os radicais de direita de Nigel Farage. O Mail e o Telegraphe trouxeram Boris Johnson para as capas no dia da votação: “Boris e Rishi estão unidos para parar o Starmergeddon”. Os esforços da imprensa não chegaram para travar os Trabalhistas.
Em França, este domingo, é a noite de todas as respostas. A imprensa, do Libération ao La Croix, pede um 'bloqueio republicano' contra a extrema-direita. A maioria dos jornais exorta os eleitores a erguer uma “barricada” ao avanço de Le Pen e Bordella. “Após o choque, fazer o bloqueio”, escreve o Libération, que acusa Macron de ser o responsável pelo caos. O Le Figaro chama-lhe "tragédia francesa" e classifica como “desastre” a dissolução da Assembleia Nacional, com a tentação de Macron de sacrificar a esquerda e a direita.
Perante o “fim da era Macron", como a define o Les Echos, o católico La Croix escreve sobre a necessidade de uma “frente republicana” para impedir a maioria absoluta de Le Pen et ses amis.
A imprensa francesa está a tomar o desejo pela realidade? É possível bloquear uma força que obteve há oito dias 12 milhões de votos, um terço dos votos expressos, 15 pp acima das legislativas de 2022? É aos Media que compete este combate? Sim, se estiver em causa a liberdade de expressão e de informação. O Charlie Hebdo trazia na capa o desenho de um braço fora de água a segurar um boletim de voto, com a legenda: “Votem, para que não seja a última vez”. Será assim? Meloni, em Itália, chegou ao poder e não se conhecem “fugas à norma”. O mesmo aconteceu na Áustria e nos Países Baixos. Vamos ver.
Esta realidade está a produzir-se no mesmo momento em que o New York Times informava que Biden estaria a ponderar abandonar a corrida e que teria confidenciado a elementos próximos que “quase adormeceu no palco”, no debate com Trump. A Casa Branca apressou-se a desmentir a notícia, mas a verdade é que o Mundo viu a fragilidade do presidente americano, com Trump a disparar nas sondagens, o que ainda não tinha acontecido. De acordo com o que se sabe, Biden mantém a firme intenção de não desistir, apesar de, pela primeira vez, três grandes jornais/revistas de referência – NYT, FT e The Economist – pedirem expressamente ao presidente para não se recandidatar. O Mundo está perigoso, como dizia Vasco Pulido Valente.