Bombeiros sapadores em protesto sobem escadaria da Assembleia da República
02-10-2024 - 12:27
 • Renascença com Lusa

Apesar da ordem policial para descerem a escadaria do Parlamento, os bombeiros continuaram a formar e a libertar fumos de foguetes.

Pneus incendiados, fatos queimados e muitos apitos. O protesto dos bombeiros sapadores, que esta quarta-feira levou centenas de manifestantes até à Assembleia da República, subiu de tom e acabou por ultrapassar os limites do protesto previstos na lei. Ao final da manhã, dezenas de bombeiros subiram a escadaria do Parlamento, furando a barreira de segurança. Horas depois, por volta das 15h40, o grupo acabou por desmobilizar.

A maioria dos bombeiros, fardados, só parou no topo da escadaria, frente à barreira policial, entretanto reposta. E, como forma de protesto, sentaram-se de costas para o Assembleia da República, cantando o hino nacional.

A manifestação foi convocada pelo Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS), que reclama acertos salariais para compensar o aumento da inflação, "conforme foi atribuído às demais carreiras da função pública", disse o presidente do sindicato, Ricardo Cunha.

Responsabilidade do excesso? "É do Governo"

O Sindicato dos Bombeiros Sapadores responsabilizou o Governo pelo facto de o protesto diante do Parlamento ter ido além do que estava autorizado, com centenas de manifestantes a invadirem a escadaria e a obrigarem à intervenção da polícia.

"Sei que eles têm razão nos protestos, o que motivou isto foi o senhor secretário de Estado ter marcado uma reunião e, no fim, voltou a dizer que não tinha nada para apresentar. Qualquer pessoa normal devia perceber que não podemos faltar à verdade aos bombeiros... Se já andam revoltados, a probabilidade de isto acontecer era muito elevada. O culpado disto tudo acaba por ser o Governo", afirmou o presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores.

Em declarações a jornalistas, Ricardo Cunha assumiu que o protesto "foi além do que estava legalizado" e confessou não saber quais possam ser as repercussões para os bombeiros, anunciando que a direção do sindicato vai reunir-se "para perceber o que correu mal".

Na origem do protesto está a ausência de valorização salarial das carreiras não revistas da Função Pública e um compromisso de 2023 do anterior Governo para efetuar essa valorização com retroatividade a janeiro de 2023 — que não foi cumprido e que o atual Governo também não concretizou, apesar do alerta feito pelo sindicato em maio.

"Na altura, o sindicato solicitou que a atualização fosse de 104 euros. Os bombeiros sapadores foram das pessoas que mais perderam poder de compra comparativamente ao salário mínimo nacional (SMN). Em 2002, um bombeiro sapador ganhava 2,5 vezes o salário mínimo nacional e agora ganha pouco mais do que 50 euros acima do SMN. É lamentável não haver por parte dos governos uma resposta a estas solicitações dos bombeiros", referiu.

Para Ricardo Cunha, "parece que o Governo estava à espera de que isto acontecesse", aludindo ao aparato dos protestos diante da Assembleia da República. "Se era disso que estava à espera, acabou por acontecer", observou.

Cordão humano para travar bombeiros

Centenas de bombeiros sapadores fardados ocupavam às 13h00 desta quarta-feira as escadarias da Assembleia da República, em Lisboa, enquanto a polícia formava um cordão à entrada do parlamento. À mesma hora, chegavam reforços da Unidade Especial de Polícia da PSP.

Ao fundo da escadaria, os manifestantes incendiaram vários pneus e queimaram um fato de trabalho dos bombeiros.

Às 13h20, um caixão branco foi levado em braços para a porta do Parlamento enquanto os manifestantes gritavam a palavra "vergonha", responsabilizando os decisores políticos pela situação da classe. À frente das centenas de sapadores fardados, um grupo de manifestantes envergava t-shirts negras com a inscrição "Sapadores em Luta".

Uma cruz e tarjas com frases como "bombeiros sapadores em luta. Esqueceram-se de nós!... outra vez..." ou "sabes quem vai salvar o teu filho" estavam colocadas à frente do protesto.

Os sapadores lutam por uma regulamentação do horário de trabalho, pela reforma aos 50 anos e por um regime de avaliação específico, entre outras condições de trabalho.