Rastrear poluição a partir do Espaço. ONU vai criar sistema para vigiar emissões de metano
11-11-2022 - 10:38
 • Joana Azevedo Viana com agências

Não haverá maneira de forçar os responsáveis a reduzirem as emissões poluentes, pelo que o trabalho da plataforma servirá mais para exercer pressão sobre empresas e países e disponibilizar dados atualizados a quem tiver interesse.

Os principais emissores de gás metano a nível mundial vão passar a ser rastreados pelas Nações Unidas a partir do próximo ano, altura em que a organização pretende lançar uma nova plataforma que irá combinar os diferentes sistemas já existentes de rastreamento, a partir do Espaço, das emissões deste potente gás com efeito de estufa.

O Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) anunciou, esta sexta-feira, que o novo Sistema de Alerta e Resposta ao Metano (MARS, na sigla inglesa) pretende ajudar as empresas a reduzir as suas grandes fontes de poluição mas também fornecer dados sobre estas emissões de uma forma "transparente e independente".

O MARS, apresentado na reta final da cimeira do clima da ONU (COP 27), a decorrer no Egito, irá recorrer a medidas recolhidas via satélite pela NASA e pelas agências espaciais europeia, alemã e italiana, havendo o objetivo de, posteriormente, serem também incluídos dados de operadores privados de satélites.

"Cada um destes instrumentos dá-nos uma resposta correta a uma questão que é ligeiramente diferente, porque cada um deles vê diferentes coisas", explica Manfredi Caltagirone, diretor do Observatório Internacional de Emissões de Metano do PNUMA. "A única forma de conseguirmos uma imagem correta é conectá-los todos."

Os dados serão divulgados entre 45 a 75 dias depois de recolhidos, para dar tempo suficiente às empresas de resolverem os problemas até estes se tornarem públicos.

"Achamos que é importante não só criar uma ferramenta de embaraço, mas também envolver os operadores e os governos para que possam agir face a eventos específicos", adianta Caltagirone.

Com a divulgação das medições, a plataforma da ONU pretende também garantir a sua própria neutralidade e fiabilidade, criando um padrão que impeça as empresas de "procurarem e escolherem" que dados é que as fazem sair melhor na fotografia, adianta o especialista.

Contudo, não haverá qualquer maneira de forçar os responsáveis a reduzirem as emissões poluentes, pelo que o trabalho da plataforma servirá mais para exercer pressão.

"Somos realistas, sabemos que certas empresas e determinados países irão cooperar mais que outros. Mas desta forma podemos garantir que a informação está disponível para quem estiver interessado."

Os primeiros dados serão divulgados na segunda metade do próximo ano, com enfoque em grandes emissões de metano. À medida que a plataforma for amadurecendo, irá incorporar dados menos dramáticos mas igualmentes importantes sobre outras fontes de emissões poluentes, como o gado e os arrozais.

Cortar as emissões de metano a nível mundial é essencial para alcançar o ambicioso objetivo definido pelo Acordo do Clima de Paris, assinado em 2015, para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC até ao final do século, em comparação com os níveis pré-industriais.

No ano passado, os EUA, a União Eurpoeia e outros países comprometeram-se a cortar em 30% as emissões de metano a nível mundial até 2030.