Cole Palmer deixa-se cair na relva e senta-se, virado para a linha lateral, a assistir à disputa entre 20 jogadores do Chelsea e do Nottingham Forest. "Cool as ice", ou "frio como o gelo", comentam, sobre um jogador que impressiona pelo talento, mas também pela tranquilidade que exibe em campo.
É esse o nome da celebração que Cole celebrizou: "Cold Palmer", feita em homenagem a Morgan Rogers, antigo colega do número 20 do Chelsea na Academia do Manchester City. Quando marca um golo, o avançado, de 22 anos, cruza os braços e esfrega as mãos nos antebraços, no gesto universal de quem está a tremer de frio. Neste caso, contudo, é Palmer que deixa os adversários a tremer com a sua frieza no último terço.
Cole Palmer nasceu em Wythenshawe, nos subúrbios de Manchester, a 6 de maio de 2002. A família do lado do pai é originária de São Cristóvão e Neves, nas Caraíbas - chegaram ao Reino Unido em 1960 -, algo que o jovem internacional inglês faz questão de homenagear: leva as bandeiras de Inglaterra e São Cristóvão e Neves nas botas.
O pai de Cole, Jermaine, era um jogador das ligas amadoras de Inglaterra e sonhava com voos mais altos, no entanto, uma grave lesão colocou um fim na sua carreira antes que pudesse, verdadeiramente, começar. Ainda assim, a paixão passou para o filho, que está agora a realizar todos os sonhos do progenitor.
O amor do pequeno Cole pelo jogo era tal que os professores lhe prometiam uma bola de futebol para ele se portar bem nas aulas. Uma paixão à medida do talento: aos oito anos de idade, foi descoberto pelos olheiros dos principais clubes ingleses e, depois de um período de namoro, os pais escolheram a Academia do Manchester City.
Não é que fossem fãs dos "citizens", apesar de viverem na zona de Manchester - na verdade, o clube de infância de Cole era o United e o seu jogador preferido o "red devil" Wayne Rooney. Mais: quando se juntou às escolas do City, começou a vestir uma camisola vermelha por baixo da azul-céu.
A escolha foi baseada nas condições que o City oferecia, que a família considerava serem as mais condutivas ao sucesso. Porém, o sonho esteve muito perto de terminar: aos 16 anos, os treinadores da academia dos "citizens" queriam dispensá-lo, por ser demasiado pequeno, mas o diretor Jason Wilcox recusou-se a abrir mão dele.
Num artigo no "The Player's Tribune", em 2022, Cole Palmer recordou o que o pai lhe dizia, quando se queixava de ser um dos meninos mais pequenos da sua idade.
"Posso mostrar-vos fotos em que todos os outros da equipa parecem gigantes e eu sou minúsculo. Frustrava-me sempre. Eu dizia, 'quero ser grande e forte'. Mas o meu pai respondia: 'Não, não queres. Precisas de ser pequeno para aprenderes a usar a tua habilidade", contou.
No final, Cole teve o melhor dos dois mundos: a habilidade e a altura. Embora nunca se tenha tornado um jogador encorpado, cresceu até aos 1,89 metros de altura, o que o torna uma figura inconfundível em campo: alto, fininho, rápido, pode até dar a impressão de um futebolista desajeitado, até se ver o que faz com a bola nos pés.
Palmer subiu escalão a escalão, até chamar a atenção de Pep Guardiola. O treinador do City deu-lhes os primeiros minutos oficiais com a equipa principal em setembro de 2020, quando Cole tinha 18 anos. O primeiro golo surgiu um ano mais tarde, no mesmo dia em que assinou um "hat-trick" pelos sub-23, porque não queria perder um único jogo.
O tempo de jogo de Cole Palmer no Manchester City cresceu de época para época, no entanto, o jovem nunca conseguiu conquistar em pleno um lugar na equipa de Guardiola. O máximo que somou foram 25 jogos em 2022/23. Faltavam-lhe minutos e, quando o Chelsea chegou com uma proposta de 47 milhões de euros, juntou-se o útil ao agradável para todas as partes.
O primeiro golo pelo Chelsea surgiu a 7 de outubro de 2023, de grande penalidade. Desde então, Palmer somou 28 golos e 16 assistências, para um total de 44 contribuições diretas para golo desde o início da temporada passada, na Premier League. Ninguém o supera, algo que o ajudou a receber uma chamada para representar a Inglaterra no Euro 2024.
Marcou na final, aos 73 minutos, um belo golo de fora da área. O resultado final sorriu à Espanha: 2-1. Ainda assim, o remate de Cole Palmer fez a nova campeã tremer.
Também esta época o avançado do Chelsea brilha: leva já 11 contribuições diretas para golo, fruto de seis golos e cinco assistências em nove jogos apenas. Em segundo, com dez intervenções, está Erling Haaland, do Manchester City. É igualmente o jogador com mais oportunidades criadas na Liga inglesa: 21, duas acima do internacional português Bernardo Silva (City).
Cole Palmer é uma das principais razões para o arranque positivo da equipa de Enzo Maresca, com quatro vitórias, dois empates e uma só derrota nas sete primeiras jornadas.
Um dos momentos altos da carreira de Palmer no Chelsea, o clube que lhe permitiu soltar toda a magia, foi uma vitória, por 4-2, sobre o Brighton & Hove Albion, a 28 de setembro, em que o jovem internacional inglês marcou os quatro golos dos "blues".
São várias as facetas de "Cold Palmer". A celebração que já foi imitada por celebridades. Os truques com a bola, os golos, as assistências. E aquele jovem que se sentou calmamente na relva a ver 20 jogadores andar aos empurrões.