Ex-bispo de Pemba admite ameaças por parte do Governo
13-04-2021 - 18:54
 • Filipe d'Avillez

D. Fernando Lisboa acusa Maputo de não ter querido sequer reconhecer o problema que se vivia em Cabo Delgado.

O ex-bispo de Pemba, em Moçambique, admite que as ameaças que o levaram a sair do país partiram especificamente do Governo.

D. Luiz Fernando Lisboa já tinha dito, em entrevista à Renascença em fevereiro, que sofreu ameaças e que isso poderia ter estado na origem da decisão do Papa de o transferir para o Brasil, mas questionado sobre se essas tinham partido do Governo evitou uma resposta direta, dizendo que era “difícil saber”.

Dois meses mais tarde, porém, foi mais claro numa entrevista ao La Repubblica, de Itália, reproduzido em português no portal de informação religiosa do Instituto Humanitas Unisinos, do Brasil, dizendo explicitamente que foi de Maputo que chegaram as ameaças que o levaram a ter de abandonar o país, contra a sua vontade.

Questionado sobre se tinham sido os extremistas islâmicos, que há três anos semeiam o terror em Cabo Delgado, a ameaçá-lo, respondeu: “Não. O governo. Recebi primeiro ameaças de expulsão, depois de apreensão de documentos e no final de morte.”

E acrescenta: “Maputo negou a guerra desde o início. Quando o conflito e o perigo se tornaram evidentes, ele proibiu que se falasse sobre o assunto. Impediu que os jornalistas fizessem o seu trabalho. Um repórter está desaparecido desde abril do ano passado. Ele trabalhava para uma rádio comunitária e falava sobre a guerra. Na sua última mensagem, disse que havia sido cercado pela polícia. A Igreja era a única que falava sobre a situação. E isso não agradava ao governo.”

“Acima de tudo, não tolerava que saíssem notícias sobre o estado. Orgulho nacional, negócios. Quando há um ano a Conferência Episcopal condenou o que estava a acontecer, num documento, as autoridades reagiram mal, começando a lançar lama sobre mim”, diz ainda.

Na mesma entrevista o bispo diz que falou do assunto quando esteve com o Papa e que está convicto de que Francisco tinha mais informação do que ele próprio sobre os riscos que corria. “No dia 18 de dezembro encontrei-o no Vaticano. Ele queria saber como estava a situação. Ele evidentemente tinha mais informações do que eu. Ele sabia que eu estava a correr riscos e ofereceu-me uma transferência para o Brasil”.

A transferência foi confirmada em fevereiro, levando o bispo para a diocese de Cachoeiro de Itapemiri, no Estado do Espírito Santo, no Brasil.