Provedora da Santa Casa? "É a ministra que tem de decidir", diz Ana Jorge
23-03-2023 - 07:00
 • Susana Madureira Martins (Renascença) e Helena Pereira (Público)

A ex-ministra da Saúde e atual presidente da Cruz Vermelha deverá ser confirmada nos próximos meses pelo Governo como a nova provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Ana Jorge deixa para a ministra Ana Mendes Godinho o anúncio oficial, salientando que a instituição tem um provedor em funções. Ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, a ex-ministra de dois governos do PS diz-se "relativamente atenta aos problemas das áreas social e saúde".

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Ana Jorge tem 73 anos e não é uma estranha na Santa Casa. Durante cinco anos ajudou a pôr de pé a Unidade de Cuidados Continuados na Estrela. Aliás, a ex-ministra considera que esta é uma área que precisa de ser refrescada, tendo em conta que "a legislação é a mesma há 15 anos".

Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal "Público", a pediatra diz que precisa "fundamentalmente de fazer coisas novas" e que a "Cruz Vermelha foi um desafio".

Tem-se falado muito do seu nome para a Provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Está disponível? Trocava a Cruz Vermelha pela Provedoria da Santa Casa?

É um assunto que eu não vou comentar. Isto tem sido muito falado, mas eu agora não vou comentar. Estamos aqui a falar da Cruz Vermelha, da saúde, que é neste momento o meu grande investimento.

Tem uma ligação estreita com a Santa Casa. Durante cinco anos, ajudou a pôr de pé a Unidade de Cuidados Continuados na Estrela. Como é que recorda essa experiência?

Comecei a trabalhar em cuidados continuados em 2000, no Garcia de Orta. Acho que os cuidados continuados são muito importantes. Eu tenho uma visão que não é aquela que está a acontecer agora. Os cuidados continuados precisam de ser refrescados. A legislação é a mesma há 15 anos. 15 anos depois, a população mudou. É preciso repensar isso.

O que é que é preciso mudar?

As normas de entrada, a seleção e os critérios de escolha dos doentes que são para longa, média ou curta duração, o formulário terapêutico que está completamente actualizado, a carga horária dos profissionais. Até porque os doentes hoje estão mais doentes que que estava há 15 anos. Os doentes estão mais velhos. A polipatologia é muito grande.

E esta é uma área onde o setor social tem que fundamentalmente responder?

Tem que se juntar a saúde e a área social porque as fronteiras aqui não existem. Se a saúde e a ação social se organizarem melhor para dar resposta a estas pessoas, temos menos doentes, menos pessoas no hospital à espera de vaga em lar ou nos cuidados continuados. Obviamente, que o número de respostas que existe é curto. Temos que apoiar mais apoio domiciliário, mais cuidadores informais.

A ministra do Trabalho anunciou na semana passada um vale para dar dinheiro para as pessoas ficarem em casa. Isso ajuda?

Ajuda um bocadinho, mas é preciso que haja depois equipas de apoio domiciliário que acompanhe as famílias e os doentes em casa.

De facto, a Estrela era a menina dos olhos e não eram os meus, eram os de Pedro Santana Lopes, que foi quem me convidou para ir para a Santa Casa.

Ficou orgulhosa do projeto?

Ficou a meio, a um terço.

Porquê?

Eram três unidades e só uma está a funcionar.

Não houve dinheiro para as outras?

Acho que houve ali problemas porque foi a seguir ao Covid. A Estrela estava pensada com três unidades em conjunto: a unidade que está a funcionar, uma unidade para a área pediátrica que não existe e uma unidade que queríamos diferenciar para a área das demências. Esta última era para ser apoio interno às instituições da Santa Casa, mas também para a área externa em Lisboa.

Mas pode, no futuro, em breve, pegar nesse projeto?

Neste momento, há um provedor em exercício que termina o seu mandato no fim do ano.


Mas a ministra disse que iria haver mudanças em abril.

Então é a ministra que tem que se decidir sobre isso e não eu, nem comentar.

Estou a ver que está a ter muito cuidado, mas não está a negar tal coisa.

Não estou a negar nem a afirmar. Eu falei da Santa Casa, da minha experiência de quatro anos na área dos cuidados continuados. Foi uma experiência muito interessante, que veio na continuidade do processo que eu tinha começado na Liga dos Amigos do Hospital Garcia de Orta. No resto, do futuro, não é comigo. Neste momento, não posso falar. É a senhora ministra, é o ministério que tem de decidir. E o provedor está em funções.

Como é que vê o papel da Santa Casa hoje em dia? Não é só a questão dos cuidados continuados.

A Santa Casa da Misericórdia tem um papel em Lisboa muito relevante. Conheço a Santa Casa desde os meus tempos de pediatria, em que havia o hospital de São Roque para área da pediatria. Sou relativamente atenta aos problemas das áreas social e saúde. É muito importante a ligação entre o social e a saúde, principalmente para as populações mais vulneráveis, quer na área da infância quer na área dos mais velhos.

Acho que se está a dar a volta. As pessoas mais velhas são pessoas válidas. Eu sou uma velha no sentido da data de nascimento e acho que ainda tenho alguma capacidade para trabalhar e gosto de o fazer. Aliás, preciso fundamentalmente de fazer coisas novas. A Cruz Vermelha foi um desafio.

E ainda está pronta para mais desafios?

A não ser que me reforme de vez.