Mundo mal preparado para queda radical dos níveis de fertilidade, dizem especialistas
15-07-2020 - 20:36
 • Filipe d'Avillez

No ano 2100 pelo menos duas dúzias de países, incluindo Portugal, poderão ver a sua população diminuir 50%.

O mundo não está preparado para a diminuição radical dos níveis de fertilidade em todo o mundo, segundo um estudo publicado esta quarta-feira na revista Lancet.

Segundo os dados do estudo a população global continuará a crescer até chegar a um pico de 9,7 mil milhões em 1967, antes de começar a descer. Em 2100 deverá rondar os 8,8 milhões, segundo as projeções.

Em pelo menos 23 países, incluindo Portugal e Espanha, a diminuição dos níveis de fertilidade pode levar a que a população decresça 50% e espera-se que haja tantas pessoas com 80 anos como bebés a nascer.

Para existir estabilidade demográfica é necessário que cada mulher tenha uma média de 2,1 bebés durante a sua vida. Em 1950 o valor médio global era de 4,7 bebés e em 2017 era de 2,4. De acordo com o estudo publicado no Lancet esta quarta-feira, o número deverá chegar aos 1,7 em 2100.

Em declarações à BBC, o investigador Christopher Murray diz que estes são dados muito significativos “teremos de reorganizar as sociedades”, afirma.

Segundo o estudo a queda dos níveis de fertilidade tem a ver com o facto de haver mais mulheres a receber educação, bem como maior acesso a contraceção.

A China, atualmente o país com maior população do mundo, deverá chegar ao pico de 1,4 mil milhões dentro de quatro anos, mas em 2100 terá baixado para 732 milhões, quase metade, vendo-se ultrapassada pela Índia.

A nível global pelo menos 183 dos 195 países existentes terá níveis de fertilidade abaixo da taxa de substituição de 2,1.1

O cenário previsto no estudo levanta uma série de preocupações, incluindo as dificuldades inerentes à manutenção de uma sociedade com tão pouca gente a trabalhar e a pagar impostos e tantas pessoas na idade da reforma. A solução adotada por muitos países ocidentais, de preencher o défice com recurso a migração, só serve se os países de onde saem os imigrantes continua a ter uma população em crescimento. Caso contrário, apenas servirá para agravar os problemas demográficos dos países em desenvolvimento.

“Vamos passar de um período em que discutimos se devemos ou não abrir as fronteiras, para uma altura em que estaremos a competir para atrair imigrantes, pois não haverá o suficiente”, diz Murray.

A nova realidade demográfica deverá levar a um crescimento da importância de África, com a Nigéria, por exemplo, a chegar aos 791 milhões em 2100, a segunda maior população do mundo. Em toda a África subsaariana deverão viver três mil milhões de pessoas por essa altura.

“Vamos ter muito mais pessoas de ascendência africana, em muitos mais países”, diz Christopher Murray à BBC.