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Ninguém está preparado para aumentos de 7% ou 8% este ano, nem o Estado nem as empresas, mas as pessoas vão exigir a reposição do poder de compra até ao Natal.
A previsão é de Clara Raposo, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa, que em entrevista à Renascença avisa que sem uma reversão da atual escalada de preços, haverá contestação social.
Nesta entrevista, a professora de Finanças defende mais flexibilidade na gestão do setor público, sobretudo em setores que têm feito manchetes, como a Saúde, os Transportes e o Ensino.
Na área fiscal, Clara Raposo recomenda um novo regime fiscal para quem está em início de carreira e admite que nos próximos dois anos não deverá haver nenhum alívio fiscal.
A líder do ISEG mostra-se ainda preocupada com o destino da "bazuca" europeia e defende que o país precisa de bons empresários, com boas ideias de negócios, ou mais vale entregar diretamente o dinheiro à população.
A antecipar o debate do Estado da Nação, no Parlamento, a Renascença está a ouvir os líderes das quatro melhores escolas de gestão do país, segundo o ranking internacional do "Financial Times". O ISEG entrou este ano para esta lista exclusiva, sendo agora uma das quatro escolas portuguesas entre as melhores do mundo em Gestão. Destaca-se ainda como uma das melhores em Finanças.
Esta visibilidade nacional e internacional traduz se em mais alunos e com melhores competências?
Este ano, de facto, entrámos para o ranking do "Financial Times" de formação executiva e nesta área conseguimos ter os nossos programas muito bem classificados, quer naquilo que são cursos abertos, pós-graduações, etc, em que quem quiser se pode candidatar e concorrer e também naquela área de formação que nós trabalhamos conjuntamente com as empresas, para quem nós customizamos programas.
É a primeira vez que entrarmos num ranking desta natureza, sentimos o benefício de sermos mais divulgados e conhecidos, não só no nosso país, mas também lá fora. Também é verdade que temos uma pandemia a acontecer, temos uma guerra no leste da Europa e, portanto, não sei se será imediato, sentirmos uma loucura de gente a querer vir para Portugal para estudar. Mas são marcos importantes para uma escola de Economia e Gestão.
Quais são as grandes dificuldades a este nível de competição, já no plano internacional?
Hoje em dia, se há área em que a globalização se sente bastante é no Ensino Superior e, principalmente, nestas áreas de Economia e Gestão. As Business Schools tornaram-se muito globalizadas e o próprio facto de as melhores serem acreditadas pelas agências internacionais obriga a alguma estandardização, comparabilidade, transferência de créditos entre faculdades. Não quer dizer que todos façamos exatamente o mesmo, mas tornamo-nos mais comparáveis do que noutras áreas de conhecimento. Nas engenharias, por exemplo, isto já não será assim tão evidente.
Estes estudantes de gestão que andam aí pelo mundo, muitas vezes já à partida também têm eles próprios vontade e apetência para virem a ter experiências e carreiras internacionais. Se não aparecermos nestes rankings, estamos pior.
Ao fim de 111 anos de existência, que celebramos este ano, a primeira escola, a mais antiga, que muitas vezes tem uma imagem de ser muito tradicional, antiquada, foi a escola que apresentou os programas mais vanguardistas, mais fora da caixa.
Ao nível do funcionamento das universidades, também estão a trabalhar com profissionais a menos, como nas urgências e noutros setores?
Posso falar no caso concreto da minha faculdade em que, de facto, estamos com alguma dificuldade em atrair e recrutar pessoas e em reter alguns dos trabalhadores nalgumas áreas. Não tanto no que diz respeito aos professores, à carreira universitária, mas em tudo o que é staff administrativo.
Esses profissionais também estão sujeitos a um mercado mais aberto e concorrencial e atualmente, com pleno emprego em Portugal e com os salários que temos na função pública... Nestes últimos dois anos temos aberto imensos concursos para recrutar e também dar oportunidades para promoverem categorias mais altas nos nossos profissionais, não apenas os professores, e de vez em quando lá sai um, lá sai outro.
É bastante competitivo, hoje em dia, conseguirmos atrair bons profissionais, quando, muitas vezes, no setor privado, pessoas com as mesmas qualificações acabam por percecionar melhor oportunidade de progressão na carreira.
A carga fiscal está a impedir aumentos salariais no país?
Não sei se é a carga fiscal que está a impedir aumentos salariais. As empresas só pagam impostos depois de terem pago os seus custos, incluindo as remunerações com o pessoal. Se tiverem mais custos com o pessoal, depois têm menor carga, menor matéria coletável, e pagam menos impostos por essa via. Eu não colocaria exatamente a carga fiscal a par do pagamento de salários aos trabalhadores. Acho que às vezes confundem-se estas coisas.
O que acontece é que nós gostaríamos de fazer em simultâneo duas coisas: por um lado, aliviar as empresas e as pessoas de uma carga fiscal tão elevada, para terem melhores condições de vida, para sentirem mais confiança para investir; por outro lado, também temos défice acumulado, temos uma dívida pública (e privada) acumulada de muitos anos ainda bastante significativa. É muito bonito dizermos que vamos reduzir as taxas de imposto, mas também dava jeito, ao mesmo tempo, reduzirmos um bocadinho o peso da dívida no nosso produto.
Vai ter de haver um momento em que isso vai ter de acontecer, em que vai haver uma redução da carga fiscal, possivelmente até com uma melhor harmonização dentro do espaço europeu, na União Europeia.
Mas ainda não é agora?
Daquilo que vou vendo, no que os nossos políticos em exercício têm dito, não me parece que seja no próximo ano ou nos próximos dois anos, que se esteja a planear uma descida significativa das taxas de imposto.
É um assunto a considerar. Os governos também têm de ver como é que vão conseguir financiar um conjunto de serviços públicos que também são importantes e que por muito que nós nos queixemos de haver ineficiência na saúde, na educação, etc, simultaneamente também achamos que deviam ter melhor qualidade. É um equilíbrio difícil, mas é um exercício que deve ser feito regularmente, para se tentar encontrar o momento em que se consegue trazer esse alívio. Acho que é um bom objetivo de médio prazo.
Associa-se muito a saída de talentos do país, a dificuldade em contratar, com os baixos salários em Portugal. Como é que se resolve este problema dos baixos salários?
São vários problemas juntos. E um dos problemas que nós temos acaba por ser esta União Europeia incompleta, em que temos uma união monetária, mas sem uma união correspondente, no que diz respeito às políticas fiscais ou orçamentais. Somos iguais para umas coisas e desiguais para outras e temos pontos de partida diferentes. É difícil para Portugal competir.
É difícil alterarem-se os salários, se não houver uma forma mais redistributiva e equitativa de nos vermos dentro do espaço europeu. Vai levar aqui algum tempo até ganharmos capacidade competitiva para sentirmos que estamos a pagar, vamos pagar salários melhores. Por outro lado, também é verdade que há experiências no mundo em que o facto de se aumentar os salários até acaba por induzir maior produtividade e, por essa via, também maior competitividade das empresas e, depois, dos países.
Com o nível de salários que nós temos, se não conseguimos fixar aqui os melhores, então é porque também estamos a desenvolver negócios que não são verdadeiramente competitivos à escala mundial. Ou temos capacidade para aumentar aqui um bocadinho aquilo que conseguimos pagar às pessoas que trabalham connosco ou não vamos conseguir competir da mesma forma, mesmo tendo em conta o nível de vida, a qualidade de vida, etc. Porque também existem alguns aspetos muito positivos de se viver em Portugal, para além da questão dos salários.
Isso é suficiente para quem está em início de carreira?
Observando os alunos, acho que muitas vezes não têm noção de qual o potencial de progressão numa carreira. Muitos deles têm a sensação de que, se entrarem para uma organização é, em primeiro lugar, para começarem a fazer um trabalho menor em relação às suas qualificações, coisa que hoje em dia têm mais dificuldade em aceitar do que se calhar eu, quando tinha a idade deles. Depois, também não vêm bem como é que se vão movimentar ao longo de uma carreira.
Tem de se criar aqui um bocadinho de espaço e dar mais oportunidades de acelerar progressão na carreira a estas pessoas mais novas. E para esses sim, acho que estávamos a precisar de um regime fiscal, porque eles têm muito potencial de mobilidade. Não é que não exista agora alguma coisa, porque existe algum benefício para estas pessoas mais novas se fixarem em Portugal. Mas algo que seja mais simples de entender.
Vamos receber agora o maior volume de fundos europeus de sempre no país. A forma como este dinheiro vai ser utilizado e executado também pode atrair talento para Portugal, atrair investimento estrangeiro e, desta forma, melhorar os salários?
Claro que aparecer dinheiro vindo de onde quer que seja, neste caso fundos públicos e, no caso do PRR, sem essas contrapartidas, é uma excelente ajuda para ser aplicado na economia, em negócios que nós esperemos que sejam mobilizadores da população, que chegue às pessoas e que chegue à montagem de infraestruturas e de novos modelos de negócio, que nos ajudem a crescer e a criar essas melhores perspetivas no futuro.
Que tipo de negócios ou áreas seriam mais eficazes ou eficientes neste momento?
Há muita coisa a ser discutida. Tem de haver uma visão estatal, digamos assim, de quem tem o acesso a esses fundos para tratar da sua redistribuição. E temos visto neste governo, por exemplo, o ministro da Economia tem aquela visão para o mar, tem aquela visão para as energias. Concordemos ou não com a totalidade daquela narrativa, a verdade é que existem algumas áreas que são sinalizadas como prioritárias e vamos tendo a noção de que continuarmos a fazer sempre o mesmo pode não ser suficiente.
E todos temos a noção da necessidade de fazer a transição dos negócios, a digital e a climática. Estes fundos podem ajudar-nos nessa direção.
Mas isto também tem de partir muito da iniciativa privada. Ao contrário da generalidade dos comentadores, que estão muito preocupados com aquilo que o Estado está a fazer ou vai fazer ao dinheiro, a mim preocupa-me isso mas também me preocupa em igual medida que apareçam ideias de empresários, boas ideias para este dinheiro ser aplicado, este e outro que venha.
Se não tivermos boas ideias para negócios, mais vale então o dinheiro ser gasto simplesmente com as pessoas diretamente, e que o consumam e que sejam felizes.
Tem de haver boas ideias para estes negócios serem aplicados e para isso é bom termos pessoas talentosas, que são capazes de ver o que é que tem futuro. E podem ser coisas muito variadas, desde as tais áreas de energia, investimentos para conseguirmos vir a ter de facto capacidade para substituir as energias fósseis, por outras mais amigas do ambiente e do planeta; atividades que possam ser feitas de forma digital, que também sejam melhores do ponto de vista ambiental; até uma indústria recreativa ou artística, mais requalificada e com mais interesse, que se torne ela própria um grande sector de desenvolvimento.
Já temos alguns unicórnios
Vamos tendo os unicórnios, umas start ups engraçadas... E depois temos, como acontece muito na Europa, um mercado de capitais ainda pouco desenvolvido e incipiente. Quando esses negócios começam a crescer, saem de Portugal e muitas vezes saem da Europa, vão para os Estados Unidos perdemos-lhes o rumo.
Não é justo. Porque depois parece que o investimento que é feito, enquanto nação, é em barriga de aluguer. Tivemos aqui a incubar o projeto, as pessoas, o talento, tudo, e depois perdemos-lhes o norte. Temos de ter aqui uma boa forma de fixação de riqueza, esse deve ser um grande objetivo para quem tiver capacidade para decidir.
No fundo, está a falar também muito em estratégia e gestão. Falta gestão e gestores qualificados nas empresas portuguesas?
Vamos olhar um bocadinho também para a própria qualificação de quem trabalha nas nossas empresas ou de quem gere as nossas empresas.
Temos uma esmagadora maioria de empresas que são de pequena dimensão. As qualificações da gestão das empresas mais pequenas, de empresas que são ainda negócios familiares, muitas vezes são menores. E nem sequer é por má vontade. Simplesmente, somos só duas pessoas ali na empresa, ou três, quem é que tem tempo para ir fazer formação?
Há aqui um problema de escala a que temos dificuldade de dar resposta, mesmo em escolas de gestão, como a minha. Como é que eu consigo chegar àquelas empresas e trazer nova formação, fazer o riskilling e o up skiling destes trabalhadores?
Pode haver uma solução intermédia, entre uma formação avançada e uma formação inicial?
Alguma coisa se vai fazendo. Mas temos de começar a juntar mais estas empresas e ter alguns programas, alguma formação e alguma "awareness" (consciência) mais específica. Há programas que vão incentivando boas PME e que lhes vão dando algum incentivo e algum reconhecimento especial pelo bom trabalho que fazem. Mas, se calhar a gestão ainda não é tão profissionalizada quanto gostaríamos. É importante dinamizar uma cultura de crescimento das empresas.
Para isso, o financiamento não pode ser só bancário. As empresas e estes empresários de pequenas empresas têm de começar a habituar-se a abrir um bocadinho o seu capital e a terem mais sócios.
Pensarem em opções como a bolsa?
Aí é uma questão de enviesamento pessoal. Apesar de tudo, e das deficiências que este sistema capitalista tem, ainda continua a ser a forma que nós temos de abrir o capital e dele ser partilhado de alguma forma, por mais pessoas. De não dependermos apenas do nosso capital humano, enquanto trabalhadores de uma organização, e também sentirmos, enquanto detentores de capital financeiro, algum benefício por esse lado.
Em relação ao ensino... Apoia a possibilidade de os politécnicos concederem doutoramentos?
Nunca discuti esse assunto com ninguém, posso-me arrepender daquilo que vou dizer, é totalmente irrefletido... Mas qualquer dia então não temos distinção nenhuma entre o que é Instituto Superior Universitário e Instituto Superior Politécnico e, qualquer dia, ninguém já sabe o que é que deve fazer.
Nós fazemos formação muito específica para profissionalizar, os politécnicos fazem o mesmo que nós, investigamos as mesmas coisas da mesma forma, a relação com as empresas é igual, é diferente.
Então, qual é a lógica de termos politécnicos e universidades? É para serem animais diferentes, não é? Entidades com características diferentes.
Se me perguntasse à partida se eu acho que faz sentido terem programas de doutoramento, acho que para a natureza do que devia ser o ensino politécnico, daquilo que eu me lembro na sua génese, não, não havia essa necessidade. E os professores dos politécnicos podem, naturalmente, aceder a fazerem doutoramentos em universidades. Senão, temos aqui um sistema que se torna único e temos que reavaliar isto tudo. Eu não gastaria tempo com isso.
Ainda sobre gestores e gestão, é preciso mais gestão na política? Temos assistido a problemas como o caos na saúde ou a rutura do aeroporto de Lisboa. São problemas que já podiam estar resolvidos há mais tempo, com menos política e mais gestão?
A máquina é muito difícil. É muito difícil gerir entidades públicas. Eu seria ainda mais crítica antes de ter esta função de gestora, também numa universidade pública, em que eu vejo a complicação que é gerir estas entidades. Todas as regras de contratação, a rigidez de contratos, limitam a margem de manobra de quem gere. Se calhar, uma gestão um bocadinho mais flexível, em que medíssemos com mais rigor e cuidado e frequência os resultados, e não tanto as regras, se estão a ser cumpridas ou não. Em vez de estarmos tão preocupados em cada minuto, a saber se o gestor roubou, se fez algo incorreto, se tivéssemos preocupados em ver o resultado final e só em caso de alerta então fazer a investigação do que se passou, éramos mais eficazes.
As regras que nós temos são tão apertadas que muitas vezes levam à inação, a ninguém se querer responsabiliza por nada, não querer tomar decisão nenhuma, porque leva tanto tempo até se conseguir mudar alguma coisa, que não facilita a transformação de áreas tão pesadas como aquelas que mencionou: saúde, transportes, educação, etc.
Sectores em que temos concorrência entre entidades públicas e entidades privadas, muitas vezes temos a noção de que o privado funciona melhor, também está sujeito a outras regras e tem outra agilidade nos procedimentos, o que torna ainda mais difícil competir no setor público com os concorrentes do setor privado e ainda piora o desempenho no público.
O peso da máquina?
O peso da máquina é difícil de mexer. Há coisas que só fechando e abrindo outra vez ali ao lado. Mas têm-se dado alguns passos. Estamos é com uma crise demográfica que não ajuda a fazer qualquer transformação e esta super qualificação de muitos dos nossos jovens, que procuram depois outros destinos. Depois, estamos a querer transformar recrutando novas pessoas e nem sempre depois as conseguimos atrair para estes setores em que estamos tão necessitados de renovar.
Os portugueses são bons a improvisar e desenrascar. Mas, são muito acomodadas e nem sempre vestem de facto a camisola. Em entidades públicas é mais difícil ainda porque, muitas vezes, também se sentem mais protegidas e entrincheiradas nas suas posições.
É difícil mexer, é difícil retirar direitos aos trabalhadores, porque também foram conquistados com muita dificuldade e também são merecidos. Mas as pessoas também têm de sentir que o mundo é difícil e que queixarmo-nos um bocadinho menos e dedicarmo-nos ativamente a sermos muito produtivos naquele bocadinho em que ali estamos, é útil para todos.
Tem havido alguma contestação por causa da perda de poder de compra e das decisões políticas que têm sido tomadas. Imagina esta reação chegar às ruas, com mais contestação do que temos assistido?
Acho que é uma possibilidade. É natural e acho que é expectável que tenhamos aqui alguma conflitualidade nos próximos tempos.
Ou se encontra aqui uma reversão notória nesta tendência de escalada de preços, ou vamos ter as pessoas a reivindicarem uma subida de salários que se aproxime daquilo que está a ser a subida dos preços, do valor da inflação, coisa que não está de todo nos orçamentos que estão feitos, nem no Estado, nem nas empresas. Ninguém planeou para este ano fazer generalizadamente aumentos de 7 e 8% nos salários.
Até ao fim, este 2022 ainda nos vai fazer pensar muito. Vamos com calma. Estamos sempre a recuperar de uma crise atrás de outra.
Já sabemos o que é que o Banco Central vai fazer, vai subir os juros, vamos ver até onde, mas é esse o instrumento que tem para combater a inflação. O que é que podemos esperar do governo e o que é que devem fazer as empresas para se protegerem?
O governo acaba por participar, razoavelmente, nestes debates europeus e há algum alinhamento com a generalidade dos outros líderes europeus, naquilo que os governos vão fazendo. Os controlos que são feitos ao défice têm vindo a ser ao longo dos tempos renegociados, a partir do momento em que são todos os países a serem afetados por uma mesma fonte de problema e não apenas alguns. Na medida em que esta inflação afetar também a França e a Alemanha, vamos esperar que acabe por haver uma resposta mais consistente e consolidada entre estes vários países.
As nossas empresas muitas vezes acabam por acompanhar aquilo que é decidido para o setor público.
Não está fácil, melhorámos da covid, estamos a piorar noutras áreas. Mas, também é verdade que temos tido algum crescimento do nosso produto. Temos de ir vendo, trimestre a trimestre, quais são os sectores que estão aqui a reagir melhor a esta nova geopolítica que se tem vindo a formar. Vamos acabar por ter aqui alguns ajustes.
Também compreendo as preocupações dos bancos centrais em apelarem à contenção na subida de salários, para que isso não faça escalar ainda mais a inflação. Mas tem de haver aqui um limite.
Se de facto a inflação continuar nos níveis que tem estado no primeiro semestre deste ano, essencialmente, a determinada altura terá de haver aqui alguma compensação a quem vive dos rendimentos do trabalho.
Compensação salarial?
Salarial, claro.
Também por parte do Estado?
Também por parte do Estado. Alguma compensação creio que acabará por ser exigida. Mesmo com um governo maioritário, com uma maioria confortável que tenha no Parlamento, creio que a expectativa de quem votou é a de ter um governo que tenha capacidade de decisão.
No próximo Orçamento de Estado?
Ou eventualmente, ainda qualquer coisa retificativa este ano. Vamos ver, porque os números do défice até agora não estão assim tão mal para os primeiros dois trimestres deste ano. Se assim for, pode haver alguma folga para compensar e nos manter com esperança.