​O Deus natural, sentimental e privado de Maria de Belém
12-11-2015 - 21:56
 • Eunice Lourenço

Na Conversa sobre Deus desta semana, a candidata presidencial garantiu uma separação radical entre vivência privada da fé e as posições públicas e as decisões políticas. “Não sou dogmática” e “acho que não devo exibir as minhas crenças”, afirmou a ex-ministra e ex-presidente do PS.

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“A Santa Madre Igreja é organização e a minha religião é sentimento” foi com esta frase e uma referência a Antero de Quental que Maria de Belém Roseira, ex-ministra e ex-presidente do PS, resumiu a sua fé e a sua relação com Deus.

No Conversas com Deus desta semana, na Capela do Rato, a agora candidata presidencial falou de religião e de política, dando testemunha de uma vivência de fé individual e de uma relação com Deus que diz ser “natural”, mas que tem dificuldade em “transformar em algo de figurativo”.

Na conversa dirigida por Maria João Avillez, Maria de Belém contou que nasceu numa casa de “católicos praticantes e onde a educação religiosa fazia parte da educação”, mas preferiu definir-se como “profundamente cristã” e disse que acredita no cristianismo “não só como religião, mas como filosofia de vida”.

Aprendeu da mãe “preocupar-se com as pessoas humildes porque as poderosas não precisam” e na família era muito valorizado o conceito do anjo da guarda como sinal de uma “relação de protecção”. Mas questionada sobre quando passou dessa vivencia mais infantil da fé para uma relação adulta com Deus, a candidata presidencial assumiu que tem alguma dificuldade em responder.

“A relação com Deus é uma relação em função de uma ordem universal. Há qualquer coisa que existe, mas que tenho dificuldades em transformar em algo figurativo. É algo como o ar que respiro, é natural, quase não sinto”, afirmou Maria de Belém, que, ao longo de quase uma hora de conversa, foi desfiando uma visão de Deus mais próxima dos conceitos New Age (designação genérica para correntes de espiritualidade que misturam conceitos espirituais e psicológicos e uma simbiose com o meio envolvente e com a natureza) do que do Deus Uno e Trino da Igreja Católica.

“Não sou dogmática”, afirmou várias vezes a ex-ministra da Saúde, acrescentando: “A minha prática de fé é mais feita em acção do quem em formalismo, sou mais sentimento do que forma, sou muito mais acção e substância do que forma.”

“A fé não me vai atrapalhar de certeza”

Maria de Belém Roseira também fez questão de garantir uma separação radical entre a vivência pessoal da fé e a vida pública e as opções políticas, assumindo mesmo que “pode ser completamente diferente” a opção privada e a definição de políticas públicas. “Acho que não devo exibir as minhas crenças”, disse perante uma plateia em que estavam vários apoiantes como Vera Jardim e Eduardo Marçal Grilo. E, questionada sobre se a fé pode ter influência no desempenho das funções, se for Presidente da República, respondeu: “A fé não me vai atrapalhar de certeza.”

Já sobre se vai continuar a ir à missa se for eleita para Belém, a candidata disse que sim, mas como faz agora: “Quando quero ir, quanto me apetece ir e não pela rotina.” Ou seja, não vai à missa ao domingo porque não gosta de “cumprir rituais” e considera que há formas mais importantes de estar com Deus.

“Vejo Deus na natureza. Deus está em toda a parte. Contemplar Deus num parque é mais importante do que ir à missa”, afirmou Maria de Belém que, ainda assim, disse que fez alguma forma de oração antes de decidir candidatar-se a Presidente da República. “Todas as decisões importantes da minha vida passam pela inovação de um poder superior a mim”, afirmou.

E como é a sua oração?, perguntou Maria João Avillez. “Rezo por palavras minhas e gosto muito do Pai Nosso e da Avé Maria”, respondeu a candidata presencial mesmo no fim de uma hora de conversa em que também manifestou a sua admiração pela Papa Francisco e pela Doutrina Social da Igreja.

As "Conversas com Deus", conduzidas por Maria João Avillez, prosseguem na próxima quarta-feira, dia 18 de Novembro, com o seleccionador nacional Fernando Santos. Seguem-se Pedro Mexia, Carminho, Henrique Monteiro e João Taborda da Gama, sempre às quartas-feiras, às 21h30.

Esta é uma iniciativa da Capela do Rato, com o patrocínio da Renascença, que transmite o essencial de cada conversa às quintas-feiras, entre as 22h00 e as 22h30.