As Coreias e a paz
24-04-2018 - 06:19

As iniciativas diplomáticas em curso nas Coreias levantam esperanças, mas envolvem riscos sérios.

Trump acolheu com entusiasmo a intenção do Kim Jong Un de suspender os testes nucleares e o lançamento de mísseis. Dias depois, o Presidente americano moderou o otimismo. Talvez alguém lhe tenha lembrado que o pai de Kim subscrevera em 1985 o Tratado de Não Proliferação Nuclear (que a Coreia do Norte abandonou em 2003) e em 1994 estabelecera um acordo com os EUA, segundo o qual os americanos dariam apoio à Coreia do Norte em troca de este país travar o seu programa nuclear. Nunca a Coreia do Norte cumpriu tal acordo.

Agora, Kim Jong Un consegue algo que o pai e o avô não lograram obter: um encontro com o Presidente dos EUA, que assim implicitamente reconhecem a Coreia do Norte como potência nuclear.

Segundo fonte da Coreia do Sul, Kim estaria disponível não só para “desnuclearizar” como para aceitar a forte presença militar americana na Coreia do Sul. Não é verosímil, pois um dos objetivos centrais da China é reduzir essa presença – ora na cimeira Trump-Kim nada se fará sem luz verde de Pequim.

E “desnuclearizar” pode simplesmente significar que a Coreia do Norte não fará mais testes, porque já realizou os necessários, e não irá eliminar o seu arsenal nuclear. Parece curto para Washington.

Entretanto, na próxima sexta-feira, os líderes das duas Coreias encontram-se. Talvez sejam aí dados passos para um Tratado de Paz que substitua o simples armistício que pôs fim à guerra da Coreia (1950-1953).

O Presidente da Coreia do Sul é um entusiasta do diálogo com a Coreia do Norte e tem servido de canal de comunicação entre Kim e os EUA. As autoridades sul-coreanas suspenderam as emissões de propaganda contra a Coreia do Norte junto à fronteira, quatro dias antes da reunião histórica entre os líderes dos dois países.

O Japão encara com ceticismo a cimeira Kim-Trump, a realizar em maio ou Junho. Existe o risco de todas estas manobras diplomáticas levarem à divisão entre os aliados dos EUA na região, outro grande objetivo da China.

Esperemos que Trump esteja consciente dos perigos que corre. E não sacrifique a segurança de longo prazo a um aparente sucesso imediato nas suas conversas com Kim.