Para um capitalismo inclusivo
18-11-2019 - 06:34

O Papa Francisco convocou para Assis um encontro que deverá permitir, a prazo, um contributo cristão para a humanização de um mundo que ameaça cair na desumanidade.

Há 30 anos o colapso do comunismo soviético suscitou alguma euforia – era o triunfo da economia de mercado. Mas S. João Paulo II, que teve importante influência nesse colapso, logo alertou para as falhas do capitalismo. Só que nem sempre foi ouvido: não faltaram empresários e gestores que passaram a agir como se a vitória do capitalismo fosse uma “luz verde” para ganhar dinheiro sem atender a exigências éticas.

Dez anos depois, já Bento XVI apelava a uma profunda reforma do modelo de desenvolvimento económico global. Em 2007 a crise financeira global pôs fim a qualquer triunfalismo capitalista: afinal, não tínhamos chegado ao paraíso.

Hoje é manifesta uma insatisfação generalizada quanto ao funcionamento da economia e da política. O Papa Francisco tem sido uma das vozes mais ouvidas a reclamar mudanças numa “economia que mata”. E tomou a iniciativa de convocar para março, em Assis, um encontro com estudantes e empresários para debater a economia que queremos para o futuro.

Numa excelente entrevista conduzida por Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia), um dos portugueses que está a preparar o encontro de Assis, o prof. Ricardo Zózimo, esclareceu o que deseja o Papa Francisco: “O Papa não quer propor um novo modelo económico (...), quer ouvir o que os jovens têm a dizer”.

Em Assis, os professores serão como que “assistentes” dos jovens e não o inverso. De “um novo olhar sobre a economia” deverão nascer propostas para futuros modelos “de maneira que se possa viver”. Um “capitalismo inclusivo, que rejeite o desperdício de recursos e de pessoas”, como o Papa Francisco pediu na semana passada.

Assim, o encontro de Assis será, esperamos, não o culminar, mas o início de um processo. Oxalá daí venha um contributo cristão para a humanização de um mundo que ameaça cair na desumanidade.