​“Ser pároco é olhar pelas ovelhas”. Padre de Braga lança “Uma mão amiga”
25-03-2020 - 10:55
 • Olímpia Mairos

Em tempos de Covid-19, sacerdote de Braga vai às compras, à farmácia, paga serviços e está a preparar um concerto a partir da sua residência.

Chama-se Sandro Vasconcelos, tem 45 anos, e é padre na Arquidiocese de Braga. Tem a seu cargo as paróquias de Godinhaços, Arcozelo, Marrancos, Moure, Pedregais e Rio Mau.

Para ajudar os paroquianos nas compras, pagamento de água ou luz, ir aos correios e à farmácia, em tempos de Covid-19, lançou a iniciativa “Uma mão amiga”. É ele que vai e paga. Com os paroquianos, só faz contas no fim da crise. Sim, o padre Sandro põe o dinheiro do seu bolso para tudo o que os paroquianos lhe solicitam.

Como surgiu este projeto Uma mão amiga"?

Perante esta pandemia, pensei nos mais velhos, nos idosos que estão sós, com filhos e netos emigrados ou noutras cidades do país. Conheço a realidade das seis comunidades e liguei para muitos filhos. Ser pároco é olhar pelas ovelhas. Esta é uma forma de estar próximo.

E como está a funcionar?

Eles ligam comigo ou os filhos, vou à porta, entregam o que querem, ou [dizem] que há para fazer, e ligo ao chegar, para estarem à porta. Não saio do carro. Entregam-me as coisas do lado contrário ao condutor. Quando chego com as compras ou medicamentos deixo à porta e ligo novamente para levantarem tudo. O pagamento das coisas acontecerá quando isto passar. Para já pago por eles. Depois fazem-se as contas.

É disponibilizado um contacto de telemóvel?

O número de telemóvel é o meu pessoal. Só tenho esse. É diretamente comigo.

As solicitações têm sido muitas?

Tenho feito compras, sempre no supermercado habitual de quem pede a “mão amiga”. Tenho ido buscar faturas da água para pagar. Até tenho ido aos CTT meter cartas. Para já estou eu, mas começando a ser mais solicitações, tenho uma rede de apoio preparada com os grupos de jovens paroquiais, bem como o Grupo Desportivo e Recreativo da Ribeira do Neiva. Também recebi inúmeros contactos pessoais de gente que se disponibilizou para ajudar.

A missão do sacerdote mudou muito nestes tempos de pandemia. Como acompanha espiritualmente os seus paroquianos?

O acompanhamento espiritual nesta altura é o possível. Todos os dias os vários grupos paroquiais recebem a oração da manhã para fazer. Também recebem subsídios pastorais para fazerem da família uma Igreja doméstica. São muitas as solicitações pelas redes sociais por parte de gente que precisa de uma palavra. Passo muitas horas de telemóvel na mão a apoiar. A prioridade nesta altura é o acompanhamento humano. E quando o faço está inerente o espiritual. Pois pode faltar a religiosidade, mas não a espiritualidade.

O padre Sandro também é músico. E está a preparar um concerto.

Têm sido muitas as provocações nesse sentido. Por parte de paroquianos e muitos seguidores do projeto. Têm sido muitas também as solicitações por parte de sacerdotes, quer da Arquidiocese de Braga, mas também do Porto e até do Funchal. Posso adiantar que esse concerto será sexta-feira, dia 3 de abril, às 21h00. Concerto a voz, guitarra e flauta transversal. Acompanha-me o meu diretor musical, Abel Gonçalves. Será em direto no Facebook Sandro Vasconcelos e no Facebook oficial Padre Sandro. Será em casa, a partir da minha casa.