Mais de 20 cientistas recusam medalha oferecida por Bolsonaro
07-11-2021 - 13:02
 • Lusa

Recusa está relacionada com o facto de o presidente ter retirado da lista dos distinguidos dois cientistas cujos trabalhos aparentemente incomodam o governo brasileiro.

Vinte e um cientistas condecorados com a Ordem Nacional do Mérito Científico renunciaram às medalhas, depois de o presidente Jair Bolsonaro ter retirado da lista dois nomes, cujos trabalhos aparentemente incomodam o governo brasileiro.

Bolsonaro nomeou 25 pessoas na quarta-feira para receber a medalha, criada em 1992 com o objetivo de homenagear as contribuições mais importantes para a ciência e tecnologia. No entanto, dois dias depois, retirou dois reconhecidos cientistas da lista.

Um dos cientistas retirados é Marcus Lacerda, autor de um dos primeiros estudos sobre a ineficácia da cloroquina contra a Covid-19, refutando assim uma das estratégias defendidas por Jair Bolsonaro para combater a pandemia.

A outra cientista visada foi Adele Benzaken, demitida da liderança do departamento de HIV/Sida do Ministério da Saúde quando Bolsonaro assumiu a presidência em 2019, depois de o seu departamento ter publicado um panfleto direcionado para os homens transsexuais.

Em protesto, o grupo de 21 cientistas recusaram as suas medalhas de mérito através de uma carta aberta. "É mais uma clara demonstração da perseguição a cientistas, configurando um novo passo do sistemático ataque à Ciência e Tecnologia por parte do governo vigente", escreveram. "Este ato de renúncia, que nos entristece, expressa nossa indignação frente ao processo de destruição do sistema universitário brasileiro e de Ciência e Tecnologia."

Adele Benzaken, atualmente diretora da Fiocruz Amazónia, diz que se sentiu "extremamente honrada" com a decisão de seus colegas de recusar as medalhas, perante o que chamou de "tratamento pouco elegante" dado a ela e a Lacerda por parte do governo.

Um relatório da comissão parlamentar de inquérito (CPI), do Senado brasileiro, fez duras acusações contra Bolsonaro e outros 77 pessoas e duas empresas por ações na pandemia, que no Brasil matou mais de 606 mil e infetou mais de 21,7 milhões de pessoas.

Bolsonaro é acusado de crimes contra a humanidade, violação de medidas sanitárias, charlatanismo, incitamento ao crime, falsificação de documentos, uso irregular de dinheiro público, prevaricação, epidemia com resultado morte e ataques à dignidade do cargo de Presidente.