Ribeiro Telles estava à frente do seu tempo e “empurrou-nos a todos”, diz Pinto Balsemão
11-11-2020 - 19:30
 • Sérgio Costa , Filipe d'Avillez com Lusa

Várias personalidades portuguesas recordam o arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles, figura respeitadíssima tanto ao nível do seu trabalho pelo ambiente como em relação ao seu serviço político.

Gonçalo Ribeiro Telles era um homem “à frente do seu tempo” que conseguiu “empurrar” todo um Governo no sentido do respeito ecológico, considera Francisco Pinto Balsemão.

Em entrevista à Renascença, o antigo Primeiro-ministro português recorda a vida e o exemplo de um bom amigo, que morreu esta quarta-feira aos 98 anos de idade.

“É alguém que ficará na história de Portugal como uma pessoa que se dedicou e conseguiu muitas vitórias pela causa do ambiente e também pela causa do ordenamento do território.

Ribeiro Telles era líder do Partido Popular Monárquico, um partido com forte traço ecologista, e nessa qualidade integrou a Aliança Democrática, encabeçada por Francisco Sá Carneiro. “Pode-se dizer que pela primeira vez na Europa os Verdes, porque o PPM para além de monárquico era o partido verde daquela altura, entraram num Governo europeu. Isso é um marco histórico que às vezes tem sido esquecido”, diz Balsemão.

Mais tarde, já com Balsemão a liderar, “aprovámos a criação da reserva ecológica nacional e também da reserva agrícola nacional, que são dois marcos na história do ambiente e do ordenamento do território. Estava à frente do seu tempo e empurrou-nos a todos para estarmos também, portanto o Governo adotou essas medidas. Não foram medidas individuais, foram medidas de um Governo.”

Pinto Balsemão recorda Ribeiro Telles como “um bom amigo e um bom português”, muito persistente, que ganhou algumas batalhas, mas perdeu outras “como a guerra contra o eucalipto e a guerra contra as autoestradas”.

Mais à esquerda, também Helena Roseta recorda um visionário que descreve como “o mais novo de nós todos” pela sua capacidade de “ver muito à frente”.

“Num ano em que assistimos a todas as movimentações desencadeadas pela Greta Thunberg, por causa do ambiente, eu acho que Ribeiro Telles era o mais novo de todos nós. Ele andou à frente de toda a gente em relação às questões ambientais, à defesa do ambiente, ao equilíbrio entre o sistema físico e o sistema vivo, ao equilíbrio entre tudo aquilo que nós andamos a fazer e aquilo que é o planeta vivo, sobre o qual existimos”, diz a socialista.

“Gozavam com ele. Lembro-me há 50 anos, quando ele falava em hortas urbanas, as pessoas diziam 'lá vem o lírico dos passarinhos'. As pessoas não acreditavam no que ele estava a dizer. Este homem viu à frente. Por isso é que eu digo que ele é o mais novo de todos nós, ele viu à frente de todos nós. Devemos-lhe efetivamente essa coragem e essa visão antecipadora.”

Helena Roseta descreve ainda Ribeiro Telles como um homem de “sensibilidade extraordinária do ponto de vista humano”, e recorda um episódio que o ilustra.

“O Gonçalo não conseguiu tirar a carta de condução porque entrou por uma rua de sentido proibido e o instrutor perguntou-lhe ‘então, não viu o sinal?’ e ele respondeu ‘não, eu vi foi uma maravilhosa buganvília’. Isto é o Gonçalo. Fascinado pela natureza, fascinado pela beleza das coisas e capaz de transmitir isso aos seus alunos e capaz de transmitir isso às gerações mais novas, capaz de transmitir isso mesmo dentro da política, sendo a política um meio tão agreste, como toda a gente sabe”, diz.

O presidente da Assembleia da República anunciou esta quarta-feira que a bandeira do Parlamento ficará simbolicamente a meia haste na quinta-feira pela morte de Gonçalo Ribeiro Telles e salientou o seu "imenso legado", em especial no domínio ambiental.

"Ausente da vida pública há alguns anos, o arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles deixa-nos hoje, aos 98 anos, uma notícia que muito me entristece. Tinha pelo arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles a maior admiração e estima", escreve Ferro Rodrigues numa nota publicada na página oficial da Assembleia da República.

O presidente da Assembleia da República considera depois que o legado de Gonçalo Ribeiro Telles "é imenso".

"E é imensa a marca que, em 98 anos de uma vida intensa, nos deixa o arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles, na sua cidade de Lisboa e no país que tanto o admirava. Personificou, até ao seu falecimento, "A Utopia com os Pés na Terra" - título de uma obra que aborda, precisamente, o ideário de Ribeiro Telles. Os portugueses perdem hoje uma das suas grandes referências, em homenagem à qual a bandeira da Assembleia da República ficará amanhã [na quinta-feira], simbolicamente, a meia haste", adianta Ferro Rodrigues.

A ministra da Cultura lamentou “profundamente” a morte do arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, que descreve como “uma voz que transformou a defesa do ambiente num posicionamento cultural” e “agiu, como poucos, na transformação” de Portugal.

Num comunicado divulgado pelo Ministério da Cultura, Graça Fonseca recorda o “arquiteto, político e professor universitário Gonçalo Ribeiro Telles”, que, “através das paisagens, marcou a cultura e o património portugueses”.

O arquiteto Álvaro Siza Vieira também se recorda de uma “grande personalidade” da sociedade portuguesa. Em declarações à agência Lusa, e reagindo à morte do arquiteto paisagista, Álvaro Sizadisse que Ribeiro Telles é uma “grande figura”, e marcou “profundamente” o mundo da arquitetura paisagista em Portugal.

“Teve um enorme papel no planeamento do territóritória além da realização dos jardins”, sublinhou Álvaro Siza.

Segundo João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, “o arquiteto Ribeiro Telles pôs-nos todos a pensar. Foi um homem que deixou nas gerações seguintes preocupações ambientais, mostrando que não podem ser de segunda linha”, disse João Pedro Matos Fernandes em declarações à agência Lusa.

O arquiteto paisagista, “deixa no seu legado coisas como as figuras de ordenamento do território que são a Reserva Ecológica Nacional e a Reserva Agrícola Nacional, que são dos anos 80, mas se mantêm atuais como peças essenciais de ordenamento a partir dos conceitos seminais de Ribeiro Telles”.

Para além de figuras da vida política e nacional, foram várias as entidades que também prestaram homenagem a Ribeiro Telles.

"O PPM vem por este meio manifestar a sua dor pelo falecimento do fundador, Gonçalo Ribeiro Telles, antigo Subsecretário de Estado do Ambiente e Ministro de Estado e da Qualidade de Vida", pode ler-se numa nota enviada à agência Lusa pelo presidente do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira.

De acordo com o partido, "quando, em 1974, juntamente com outros nomes, Gonçalo Ribeiro Telles tomou a decisão de corajosamente assumir a criação de um partido Monárquico, com princípios inovadores para altura - e que hoje tantos se aproveitam - como a Ecologia, era já um homem à frente do seu tempo".

"Visionário como arquiteto paisagístico, não deixou de o ser também no campo da Política quando, em 1979, esteve na formação daquele que foi o primeiro governo de maioria absoluta em Portugal após o 25 de Abril", elogia.


O presidente da Associação Portuguesa dos Arquitetos Paisagistas (APAP), Jorge Cancela, sublinha o valioso legado deixado por "um visionário de uma sociedade equilibrada, democrática, justa e sustentável".

"Felizmente ainda foi reconhecido em vida, mas só vai ser melhor compreendido à medida que o tempo for passando. Era um visionário, por ter defendido sempre que a questão ambiental é essencial. Dela depende a nossa vida", declarou o presidente da APAP.


O Grupo Parlamentar do PS considera que Gonçalo Ribeiro Telles se assumiu ao longo da sua vida como um "intransigente" defensor dos valores da democracia e da liberdade.

Em comunicado, o Grupo Parlamentar do PS associa-se ao pesar pelo falecimento do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles, fundador do PPM (Partido Popular Monárquico), destacando a sua "vida dedicada à arquitetura, ao paisagismo e à ecologia".

"Foi também deputado à Assembleia da República em 1979 e 1983. Regressa ao parlamento em 1985, como deputado independente eleito nas listas do PS. Sendo monárquico convicto, primou sempre pela defesa intransigente dos valores da democracia e da liberdade", refere-se no mesmo texto.


O arquiteto Gonçalo Byrne, presidente da Ordem dos Arquitetos, lamentou a morte de Gonçalo Ribeiro Telles, aos 98 anos, sublinhando que fica "um legado absolutamente extraordinário" em Portugal e a nível internacional.

"É uma figura incontornável da arquitetura paisagista", mas também uma personalidade com várias dimensões, "não só um homem de Cultura, de Política, foi um homem de causas", disse Gonçalo Byrne.


O Centro Nacional de Cultura lamentou a morte do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles, descrevendo-o como uma “referência na cultura portuguesa” e um “autêntico símbolo” da arquitetura paisagista, cuja voz continuará “a ter de ser ouvida”.

Num comunicado hoje divulgado, o presidente do Grande Conselho do Conselho Nacional de Cultura (CNC) e membro da organização desta entidade, Guilherme d’Oliveira Martins, refere que a melhor palavra no momento da morte de Gonçalo Ribeiro Telles é “gratidão”: “será para nós sempre um exemplo e uma memória viva”.


O diretor da Casa da Arquitetura, em Matosinhos, diz que o arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles teve um “papel fundamental” na colocação do planeamento e ordenamento territorial na “ordem do dia”.

Dizendo que a morte de Gonçalo Ribeiro Telles é uma “enorme perda” para o mundo da arquitetura e sociedade portuguesa e expressando o seu pesar, Nuno Sampaio referiu que, além de uma “grande referência” nesta área, era um homem de uma “enorme cultura e dimensão”.


[Artigo em atualização]