A "democracia" de Trump
21-07-2020 - 06:14

O presidente americano critica as sondagens, que lhe são desfavoráveis, considerando-as falsas. E não se compromete a respeitar os resultados eleitorais de novembro, se perder. É esta a “democracia” de Trump.

O presidente Trump há meses desvalorizou o coronavírus. E sempre contrariou confinamentos, que prejudicam a economia e aumentam o desemprego, o que não lhe convém nada para ser reeleito em novembro. Também propagandeou estranhos “remédios” contra o vírus e recusou andar com máscara até há dias. E chegou a apoiar uma opinião que aconselhava os americanos a não confiarem nos médicos quanto ao coronavírus.

Trump ainda não despediu Anthony Fauci de conselheiro presidencial. Ele é um imunologista americano de enorme prestígio. Mesmo assim, o presidente pôs vários membros da Casa Branca a dizer que Fauci só tem feito e dito asneiras.

Entretanto, o coronavírus alastra na América. Mais de 3 milhões foram infetados nos EUA e perto de 140 mil já morreram. É uma situação que começa a incomodar os políticos republicanos, que, com raras exceções, seguiam e defendiam as posições do presidente, por mais absurdas que fossem – mas agora já manifestam dúvidas, porque percebem que os seus potenciais eleitores estão perplexos e angustiados.

Perante a caótica “gestão” da pandemia por Trump, as sondagens começaram a ser-lhe desfavoráveis. Reação de Trump: essas sondagens são fraudulentas. Mas não apresenta provas de qualquer fraude.

Esta é uma preparação para a atitude que Trump irá tomar se perder as eleições de 3 de novembro: não aceitar os resultados eleitorais, acusando-os de não serem verdadeiros. Trump visa sobretudo as votações pelo correio, que em época de pandemia serão numerosas.

Nas eleições presidenciais de 2000, que colocou frente a frente G. W. Bush e Al Gore, houve grande controvérsia sobre os votos na Florida. Teve que haver uma longa e penosa recontagem, e no final a vitória foi atribuída a Bush filho. Embora sentindo-se injustiçado, Al Gore aceitou democraticamente a derrota. Nunca um derrotado nas eleições presidenciais americanas tomou uma posição de não aceitar os resultados.

Assim, se Trump perder as eleições presidenciais de novembro e não aceitar os resultados, irá abrir-se nos EUA a mais grave crise constitucional desde a independência do país. Não será de estranhar, dado o escasso apreço que Trump tem pela democracia. Mas tratar-se-á, porventura, do maior choque da democracia americana desde sempre.

Há curiosidade em perceber qual a reação dos políticos do partido republicano perante estas atitudes frontalmente contrárias à democracia do presidente.