Marcelo diz que não foi informado pelo ministro da Defesa sobre as investigações
09-11-2021 - 20:33
 • Renascença

Presidente da República revela que Gomes Cravinho terá justificado a falha de comunicação com um parecer jurídico que aconselhava a não transmissão de informação sobre o caso a outras entidades.

O Presidente da República diz não ter sido informado pelo ministro da Defesa sobre as suspeitas de tráfico de diamantes e droga por militares portugueses em missão na República Centro-Africana.

Depois de, ontem, ter admitido a hipótese de não ter sido informado por João Gomes Cravinho, dado o facto de haver uma investigação judicial em curso, Marcelo Rebelo de Sousa confirmou, esta terça-feira, que falou com o ministro que “explicou que, naquela altura, comunicou às Nações Unidas o que havia de suspeitas relativamente a um caso em investigação judicial e que, na base de pareceres jurídicos, tinha sido entendido que não devia haver comunicação a outros órgãos, nomeadamente órgãos de soberania, Presidente da República ou Parlamento e, também, não ao Conselho de Defesa Nacional, na base de se tratar de uma investigação judicial em curso e, por isso, rodeada, naturalmente, de um conjunto de características de segredo de justiça que contraindicavam essa comunicação”.

Questionado pelos jornalistas, em Cabo Verde, se se teria sentido ultrapassado neste caso, sendo Comandante Supremo das Forças Armadas, Marcelo evitou alongar-se em comentários: “não tenho nada que me pronunciar sobre essa matéria, tenho apenas de dizer o que aconteceu”.

Em causa, na Operação Miríade, está a investigação a uma rede criminosa com ligações internacionais e que "se dedica a obter proveitos ilícitos através de contrabando de diamantes e ouro, tráfico de estupefacientes, contrafação e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas informáticas", com vista ao branqueamento de capitais.

Em comunicado, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) revelou que alguns militares portugueses em missões na República Centro-Africana podem ter sido utilizados como "correios no tráfego de diamantes, adiantando que o caso foi reportado em 2019.

Para o EMGFA, "o que está em causa de momento é a possibilidade de alguns militares que participaram nas FND [Força Nacional Destacada], na RCA, terem sido utilizados como correios no tráfego de diamantes, ouro e estupefacientes" e que "estes produtos foram alegadamente transportados nas aeronaves de regresso das FND a território nacional".