​Prova de fogo
18-07-2022 - 06:05

Falando de incêndios, o Governo alertou para que as condições eram, agora, tão más ou piores do que as verificadas em 2017, quando trágicos fogos fizeram muitos mortos. As condições revelaram-se piores. Mas, felizmente, não se repetiram tragédias como as de 2017. O Governo passou esta “prova de fogo” sem motivos para ser seriamente criticado.

Quando se começou a sentir a onda de calor que se abateu sobre Portugal continental, o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, alertou para que as condições eram iguais ou piores do que as verificadas em 2017, quando se registaram trágicos incêndios, que fizeram mais de 60 mortos. As condições revelaram-se de facto piores. Mas, felizmente, não se repetiram tragédias como as de 2017.

O que se passou nos últimos dez dias, com temperaturas altíssimas durante mais de uma semana e em plena seca, foi uma violência. O fogo não poupou sequer o Parque Nacional da Peneda-Gerês. Mas o combate aos inúmeros incêndios foi em geral mais eficaz do que se poderia recear.

O Presidente da República e o primeiro-ministro cancelaram viagens ao estrangeiro. Fizeram bem à sua imagem pública e sobretudo transmitiram à sociedade que a situação era mesmo grave. Provavelmente este alerta evitou descuidos e negligências que iriam originar ainda mais fogos.

Claro que tantos incêndios florestais deixaram um grande rasto de destruição e enormes prejuízos. Causaram muita angústia e sofrimento. Arderam casas, anexos, armazéns, fábricas, oficinas, carros, culturas agrícolas, alfaias, animais. Houve feridos, alguns (felizmente poucos) com gravidade. Muita gente teve que abandonar a sua casa, para evitar o pior. Inúmeras estradas foram cortadas. Etc.

Mas pouparam-se vidas humanas, o que no passado nem sempre aconteceu. Os bombeiros, a Proteção Civil, a GNR e demais entidades envolvidas no combate aos fogos merecem o nosso agradecimento pelo que fizeram, muitas vezes lutando contra o cansaço e a exaustão. E frequentemente correndo riscos; recorde-se e lamente-se a morte de um piloto, quando se despenhou o avião com que ele combatia um incêndio na zona de Foz Côa.

Digamos que o Governo passou esta “prova de fogo” sem motivos para ser seriamente criticado. Teve sorte? É bem possível. Agora importa merecer essa sorte, atacando as causas de fundo dos incêndios rurais, que foram largamente ignoradas nos últimos anos. Sabendo que ondas de calor como esta poderão voltar a acontecer ainda este ano. As alterações climáticas são infelizmente uma realidade.