​NATO: uma cimeira de crise?
11-07-2018 - 07:07

A relação transatlântica, um pilar essencial da política externa americana depois da II guerra mundial, está em risco. Os europeus também têm culpas.

A cimeira da NATO que hoje começa em Bruxelas poderá ficar na história pelos piores motivos. A Aliança Atlântica foi criada em 1949 por iniciativa dos EUA e revelou-se a aliança político-militar com maior sucesso de sempre. Durante a guerra fria os americanos preveniram a ameaça do expansionismo soviético estacionando largos contingentes de tropas na Europa ocidental (a de Leste estava sob domínio soviético) e fortalecendo as economias dos países europeus democráticos com a enorme ajuda do Plano Marshall. Mas a relação transatlântica encontra-se hoje em crise.

Durante a sua campanha presidencial Trump classificou a NATO de “obsoleta”. Talvez por ter terminado a guerra fria, com o colapso do comunismo soviético. Mas essa é uma visão míope, pois as democracias liberais são agora alvo de outras ameaças – do expansionismo da Rússia de Putin (recorde-se a Ucrânia) até ao terrorismo islâmico. Escreveu o “Financial Times” em editorial que, sem o apoio americano, a Europa comunitária teria dificuldade em se defender de Putin – de um eventual ataque aos países bálticos, por exemplo.

As debilidades da defesa europeia são, em larga medida, culpa dos próprios europeus, por duas razões: primeiro, porque têm gasto pouco em despesas militares (é mais barato e mais cómodo viver sob proteção americana). Em segundo lugar, porque a área da defesa sofre, na Europa, de uma grande falta de eficácia, visto que está dividida entre numerosos sistemas nacionais, por vezes incompatíveis entre si. Maior integração nessa área, eliminando duplicações e coordenando sistemas, é indispensável.

Trump não gosta de organizações multilaterais, como é a NATO. E detesta gastar dinheiro americano sem contrapartidas. Por isso é possível que ele anuncie reduzir a contribuição financeira dos EUA para a NATO. E reduzir também o número de efetivos militares americanos que ainda permanecem em território europeu, nomeadamente na Alemanha.

Convém lembrar que na próxima semana, na segunda-feira 16, Trump se irá encontrar com Putin em Helsínquia. Ora o presidente americano parece ter maiores afinidades políticas com a Rússia de Putin do que com as democracias liberais que ainda subsistem na Europa. Uma crise na NATO seria mais um perigoso golpe no futuro dessas democracias, entre as quais se inclui a portuguesa.