Um ano de guerra no Médio Oriente em mapas e gráficos: só em nove dias não morreu nenhum palestiniano
07-10-2024 - 07:22
 • Diogo Camilo , Salomé Esteves

Os ataques do Hamas em Israel a 7 de outubro fizeram 1.169 mortes e mais de 250 reféns — dos quais uma centena continuam sem paradeiro conhecido. Em resposta, Israel avançou com uma ofensiva sem fim que, num ano, fez 40 vezes mais vítimas, destruiu metade dos hospitais, casas e estradas no território e obrigou 90% da população de Gaza a sair da sua casa.


Passava pouco das 6h30 quando as sirenes soaram em Jerusalém, eram 4h30 em Portugal continental. Os cerca de 2.200 mísseis disparados pelo Hamas, aos quais se seguiu uma entrada a matar, levada a cabo pelos terroristas do movimento islamita, pelo sul de Israel, deram o tiro de partida ao conflito no Médio Oriente que se prolonga durante um ano.

O ataque inicial do Hamas fez 1.169 mortes confirmadas por Israel, a que se somaram 251 pessoas tornadas reféns em Gaza — a maioria delas estrangeiras ou com múltiplas nacionalidades. Destas, 117 regressaram com vida a Israel — seja através de negociações e trocas com presos palestinianos ou de operações do exército israelita —, enquanto 97 pessoas permanecem sequestradas e 37 corpos foram repatriados e entregues às suas famílias em Israel.


Em resposta aos ataques do 7 de Outubro, Israel entrou no território da Faixa de Gaza pelo ar, por terra e pelo mar, com fortes ataques que, no último ano, fizeram mais de 41.870 mortes e quase 100 mil feridos.

O número de vítimas representa cerca de 2% da população de Gaza e corresponde a uma contagem de fatalidades quase 40 vezes maior que a de Israel, que tem uma população cinco vezes superior. Em proporção, o número de palestinianos mortos em Gaza no último ano seria o equivalente em números à morte de mais de 180 mil pessoas em Israel.

Os dias mais mortais em Gaza aconteceram pouco mais de duas semanas depois do ataque do Hamas em Israel, a 24 e 25 de outubro, quando mais de 1.400 palestinianos morreram após uma incursão de uma coluna de tanques israelitas no norte do território.

No espaço de um ano, só por nove dias não foi registadas qualquer morte de palestinianos em ataques israelitas.


Três dias depois, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou que a guerra entrara numa “nova fase” com aumento de ataques aéreos e o estender das operações por terra.

São contados vários ataques a campos de refugiados perto de Gaza, numa altura em que se contavam já mais de um milhão de pessoas deslocadas.

A 6 de novembro, o número de mortos na Faixa de Gaza ultrapassou os 10 mil, que chegaram aos 20 mil na véspera de Natal, a 24 de dezembro de 2023. No final de fevereiro, o total de vítimas palestinianas chegaram aos 30 mil e em meados de agosto deste ano foi ultrapassada a barreira dos 40 mil óbitos.



A estes somam-se o número de soldados israelitas mortos em combate desde a entrada de Israel na Faixa de Gaza. A mais recente atualização do exército israelita é do final de agosto, quando foram registadas 333 mortes de soldados israelitas no território palestiniano em operações militares terrestres.

O ritmo de mortes na Palestina foi acalmando, à medida que o território foi destruído e que grande parte da população se deslocou para sul do território, refugiando-se em abrigos do Governo palestiniano ou das Nações Unidas, geridos pela agência da organização para os refugiados palestinianos (UNRWA).

Na sua última atualização, feita já há nove meses, o órgão da ONU contabilizava quase um milhão de refugiados só em Rafah, a que se somam cerca de 775 mil palestinianos em Khan Younis.

Imagens do satélite Copernicus mostram o rasto de devastação no norte de Gaza, provocado por um ano de guerra.


Dados do Centro de Monitorização de Deslocados contam quase 1,9 milhões de palestinianos que tiveram de sair das suas casas devido à guerra.

No sul, para onde se deslocou a maioria dos palestinianos, os estragos também são visíveis.


Para trás ficam os estragos provocados pelos ataques israelitas: mais de metade de todas as casas em Gaza sofreram danos e mais de 150 mil ficaram destruídas; e mais de metade dos hospitais deixaram de funcionar — apenas 17 dos 36 hospitais continuam em funcionamento (três no norte de Gaza, sete na cidade de Gaza, três em Deir al Balah e quatro em Khan Younis).

Os últimos dados disponíveis da Agência das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Governo palestiniano, acoplados pela Tech for Palestinians, dão conta ainda de que 85% das escolas em Gaza nos ataques israelitas ficaram danificadas e que 65% das estradas ficaram destruídas.


Além disso, mais de dois terços das terras agrícolas da Faixa de Gaza foram destruídas pelas operações militares israelitas no enclave palestiniano, levando a agência da ONU para a alimentação e agricultura (FAO) a indicar o risco "agravado" de risco de fome da população.

Mais de metade dos poços com uso agrícola (1.188) e 577 hectares de estufas foram danificados "significativamente", com as imagens a mostrarem traços de veículos pesados, bombardeamentos ou locais arrasados. No porto da cidade de Gaza, a maior parte dos barcos de pesca foi destruída.