Paz mais longe no Médio Oriente
29-08-2020 - 08:37

Com Trump, a política americana para o Médio Oriente mudou, no sentido de um apoio total a Netanyahu e um conflito aberto contra o Irão. As perspetivas de paz na região tornaram-se mais sombrias.

Em 13 de agosto, os Emiratos Árabes Unidos (EAU, uma federação de sete pequenos estados na região do Golfo) estabeleceram relações diplomáticas com Israel, sob o patrocínio dos EUA. Não foi uma total novidade: Israel tem relações diplomáticas com o Egito desde 1979 e com a Jordânia desde 1994. E têm-se multiplicado contactos mais ou menos discretos entre Israel a vários países árabes.

O objetivo principal de Trump – relações diplomáticas entre Israel e a Arábia Saudita - ainda não foi alcançado; consta que o ditador saudita, o príncipe herdeiro bin Salman, gostaria de avançar nesse sentido, mas encontrou a oposição do seu pai, o rei saudita, debilitado mas ainda com poder.

O rei saudita quis manter-se fiel à causa palestiniana, que nada tem conseguido nos últimos anos. Os palestinianos rejeitaram ferozmente o acordo de 13 de agosto, considerando-o uma “traição” dos árabes.

Netanyahu deu como contrapartida ao recente acordo suspender a prometida anexação de uma grande parte da Cisjordânia. Não pôs de lado, definitivamente, essa anexação. Quando lhe der jeito, Netanyahu voltará a ela, inviabilizando qualquer Estado palestiniano.

Mas se aquele acordo ajudou o primeiro-ministro israelita a desviar as atenções da sua insólita situação (está a ser julgado por corrupção e ao mesmo tempo mantém-se como chefe de governo) e da sua incapacidade para travar a pandemia do coronavírus, a verdade é que ele não beneficiou a popularidade de Netanyahu tanto quanto este esperava.

E agora é Israel quem se sente incomodado com a projetada venda de modernos caças americanos de combate aos EAU. Devia ter reparado que a primeira viagem ao estrangeiro do presidente Trump foi à Arábia Saudita, à qual vendeu uma enorme quantidade de armamento em 2017.

Parece que os EAU deixaram de ser um país que evitava envolvimentos militares. Segundo revelou a BBC na sexta-feira, a morte de 26 jovens cadetes, desarmados, em Tripoli, Líbia, no início do corrente ano, ficou a dever-se a um ataque de “drones” dos EAU, lançados a partir do Egito.

A Arábia Saudita também recorre à eliminação dos que considera serem seus inimigos. Aconteceu com o horrível assassinato do jornalista Khashoggi no consulado saudita em Istambul, assim como na tentativa de matar no Canadá um ex-membro da sua polícia secreta.

Como é óbvio, nada disto, e muito mais que se desconhece, se passou sem conhecimento e autorização do príncipe herdeiro bin Salman.

Os árabes sunitas têm um inimigo comum, os muçulmanos xiitas (não árabes, mas persas) do Irão. O que os aproxima de Israel, que receia acima de tudo um Irão nuclear. Trump retirou os EUA do acordo nuclear conseguido com o Irão em 2015 e assim tornou essa ameaça mais próxima, ao mesmo tempo que fortaleceu a ala mais dura da teocracia iraniana.

Quanto ao conflito entre israelitas e palestinianos, a política de Trump e Netanyahu só tornou a paz mais longínqua, se é que um dia haverá paz entre eles.

Com Trump, a política norte-americana para o Médio Oriente mudou, no sentido de um apoio total a Netanyahu e um conflito aberto contra o Irão. As perspetivas de paz na região tornaram-se mais sombrias.