A extrema esquerda e a UE
28-08-2018 - 06:22

O “casamento” entre o PS europeísta e a extrema-esquerda, que detesta a UE, permitirá a aprovação do Orçamento para 2019. Mas, depois das eleições, não será renovado.

No domingo passado Catarina Martins, líder do BE, criticou o PS e em particular o ministro Centeno num comício em Marselha do partido francês de extrema-esquerda liderado por Jean-Luc Mélenchon. Nada de novo, tal como as frequentes críticas do PCP (mas essas feitas em Portugal). Sempre foi clara a oposição destes dois partidos à União Europeia, que consideram um veículo da ortodoxia capitalista neoliberal.

Quando surgiu a chamada “geringonça”, as principais dúvidas quanto à sua capacidade de sobrevivência tinham a ver com o difícil casamento entre um PS europeísta e esses dois partidos de extrema-esquerda, anti UE. As coisas correram melhor para o governo do que muitos (nos quais me incluo) esperavam, enquanto se tratou de reverter medidas duras impostas pela “troika”, aliás trazida a Portugal por um governo socialista. Reversão nos cortes nas pensões e nos salários, por exemplo.

Provavelmente muitas dessas reversões aconteceriam, embora a ritmo mais lento, com um governo de outra cor política. Como também viria a retoma da economia, iniciada ainda no tempo de Passos Coelho primeiro-ministro, e a queda do desemprego.

Mas o governo de A. Costa foi capaz de dar – e mais dará em 2019 – alguns “rebuçados” aos eleitores graças ao novo tipo de austeridade praticada por Centeno: os cortes na despesa pública e sobretudo no investimento do Estado, através de cativações e outras medidas restritivas. Daí, como se sabe, o caos que se instalou em numerosos serviços públicos, no caminho de ferro, na justiça, nas forças militares e de segurança, etc.

Ora o ministro Centeno, presidente do Eurogrupo, foi infeliz na declaração que fez sobre o fim do terceiro resgate à Grécia. Teria sido indicado falar apenas para o futuro daquele país, que perdeu um quarto do seu PIB nos últimos oito anos. Mas Centeno falou do presente – a saída dos gregos do programa de assistência. Ora o mesmo Centeno não só tinha criticado a aceitação pelo governo de Passos Coelho de muitas medidas de austeridade impostas pela “troika”, como criticara a saída limpa de Portugal em 2014, em condições bem mais favoráveis do que as da saída, agora, da Grécia. Saída que Centeno despropositadamente elogiou.

Mas o grande contributo de Centeno para Portugal - a austeridade disfarçada, via despesa pública (que se nota menos do que a redução de rendimentos) – essa habilidade política continuará em 2019, de maneira a cumprir e até a ultrapassar as metas de Bruxelas. O que não continuará depois das próximas eleições é a “geringonça”, por muitas juras de amor que, pelo menos até à aprovação em novembro do Orçamento para 2019, António Costa e outros dirigentes socialistas façam ao PCP e ao BE.


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