Depois de dois anos e meio de guerra, a Ucrânia prometeu para os próximos dias uma verdadeira revolução do seu governo, com mais de metade do Conselho de Ministros a afastar-se.
Seis ministros e um alto representante do gabinete presidencial de Volodymyr Zelensky apresentaram a sua demissão, mas nem todas foram aceites. Entre os demissionários está Dmytro Kuleba, o ministro dos Negócios Estrangeiros e uma das figuras de maior relevo do governo, com o parlamento ucraniano a “adiar com urgência” a decisão sobre a sua saída.
Como justificação para a remodelação, Zelensky sublinhou a necessidade de uma “nova energia” para um outono que “será extremamente importante para a Ucrânia”.
Quem sai?
Para já, estão confirmadas as demissões do ministro da Justiça, Denys Malyuska, da adjunta do primeiro-ministro para a Integração Europeia, Olga Stefanishyna, do ministro de Indústrias Estratégicas, Oleksandr Kamyshin, do ministro da Ecologia, Ruslan Strilets e o líder do Fundo Proprietário Estatal, Vasyl Koval, além de Kuleba.
Destes, apenas os pedidos do líder do Fundo Proprietário Estatal e o de Iryna Vereshchuk, adjunta do primeiro-ministro para a reintegração dos territórios ocupados da Ucrânia, não foram aceites.
Ao mesmo tempo, o parlamento adiou com carácter de urgência o voto sobre a demissão de Dmytro Kuleba do cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, sem justificação.
Olga Stefanishyna, de saída de um ministério, é a favorita ao cargo de ministra da Justiça, que fica agora vago, segundo o Ukrainska Pravda.
O que disse Zelensky?
A primeira intenção de remodelação de governo foi dada pelo porta-voz do partido do Presidente da Ucrânia no parlamento, David Arajamia, com Zelensky a abordar o assunto no final do seu habitual vídeo diário esta terça-feira.
“O outono vai ser extremamente importante para a Ucrânia e as nossas instituições devem estar preparadas de forma a que alcancemos os resultados que precisamos. Para isso, precisamos de fortalecer algumas áreas do governo e algumas decisões pessoais foram preparadas”, afirmou.
Assim, explicou, algumas áreas de políticas domésticas e internacionais passarão a ter um “ângulo diferente”.
Quais as razões para remodelar o governo?
A justificação, disse Zelensky, é a procura por “mais interação entre as autoridades centrais e as comunidades” e mais investimento em setores estratégicos, acelerar o processo de adesão à NATO e negociações para a entrada na União Europeia, assim como a recuperação da confiança na Ucrânia.
“Precisamos de um novo nível de relações com a comunidade ucraniana por todo o mundo. Agora é a hora de dar uma nova força às instituições do Governo da Ucrânia e estou grato a todos os que ajudaram”, disse Zelensky.
Esta quarta-feira, numa conferência conjunta em Kiev com o primeiro-ministro irlandês, Simon Harris, o Presidente ucraniano afirmou que a remodelação passa por transmitir uma “nova energia” depois de mais de dois anos de guerra com a Rússia.
"Alguns deles são ministros há cinco anos e precisamos de energia nova", explicou, agradecendo aos governantes que deixam o executivo.
O que diz a Rússia?
Em reação, Moscovo diz que as mudanças no governo ucraniano não influenciam "de forma alguma" as perspetivas de um processo negocial entre os dois países.
"Não, isso não influenciará de forma alguma e não tem nada a ver com as perspetivas de um processo de negociação", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, citado pela agência de notícias russa TASS, a uma pergunta sobre o impacto que as mudanças governamentais na Ucrânia.