Os livros estão recheados de homens que fizeram História. Mas a História também faz os homens. Alguns parecem predestinados a fazê-la. Outros emergem inesperadamente. E não a fazem pior.
Winston Churchill fez História. Falar em Churchill é falar num dos maiores responsáveis pela vitória sobre os nazis na II Guerra Mundial.
Porém, sem a II Guerra e o papel que nela desempenhou, Churchill seria provavelmente recordado como pessoa excessiva e político falhado, dotado de mais ambição do que glória.
Sem a invasão russa, Volodymyr Zelensky continuaria a ser olhado com sobranceria; nada mais do que um comediante que chegara, pasme-se, a Presidente da República.
Com a guerra da Ucrânia, Zelensky será lembrado, em qualquer caso, como rosto da resistência a um ataque desumano à liberdade, à segurança e à autonomia dos povos.
Perante as circunstâncias as lideranças revelam-se. Ampliam-se umas, reduzem-se outras.
Joe Biden, por exemplo, não tinha necessidade de dizer sobre Putin o que disse na Polónia. Não que Putin não o mereça. Ao contrário do que o PCP continua lamentável e candidamente a dizer, o Presidente russo não se limitou a violar o direito internacional.
Putin violou muito mais do que o PCP é capaz de ver: provocou a morte de milhares de pessoas – ucranianos e russos; causou a maior onda de refugiados das últimas décadas na europa; destruiu modos de vida, bombardeou cidades (imagino que aos dirigentes comunistas portugueses tenham escapado as imagens de Mariupol), arrasou património cultural, quebrou a confiança, desestabilizou o mundo.
Numa guerra não há inocentes, mas transformar o Ocidente e a Nato em culpados e não ver mais em Putin do que alguém que se limitou a violar uns preceitos de direito internacional, diz muito pouco sobre o líder russo, dizendo, porém, imenso sobre a demagogia obscena do PCP.
Os comunistas portugueses perderam o farol da ditadura soviética que os inspirou desde o início, mas continuam em contramão com a história e com o mundo.
Porém, apesar das evidentes responsabilidades do atual Presidente da Rússia, um grito de alma de Joe Biden sobre a manutenção de Putin no poder tira o tapete àqueles que no Kremlin se lhe opõem.
Se o objetivo era fragilizar Putin, o desabafo de Biden na Polónia terá o efeito oposto na Rússia.
Quem, internamente e longe dos holofotes, viesse porventura a desafiar a liderança de Putin seria visto agora como mera caixa de ressonância de Washington. Putin agradece o jeito. Os seus críticos não.
Para mais, os jogos de palavras não param a guerra. Apesar de um suposto progresso nas negociações, a destruição continua. Entre o que se diz e o que se faz vai uma distância considerável.
Para fazer a paz será necessária mais coragem do que simplesmente para começar a guerra. E aí, de um lado e do outro, se revelarão os líderes que hão-de ficar para a História. Pelas boas e pelas más razões.