Hélder Amaral sofreu racismo no Parlamento Europeu. "Acharam que era empregado de mesa"
20-07-2019 - 09:00
 • Marina Pimentel

Deputado do CDS é um dos convidados do programa Em Nome da Lei desta semana, em que se debateu se a sociedade portuguesa é racista.

O deputado do CDS Hélder Amaral diz que foi alvo de atitudes racistas, em 2007, no Parlamento Europeu. O único deputado afrodescendente com assento parlamentar revela que, primeiro, “acharam que era empregado de mesa" e que, posteriormente, "e depois de várias vezes terem pedido para confirmar se era mesmo deputado", não o queriam deixar falar sem antes lerem os seus discursos.

Hélder Amaral, na bancada centrista há 16 anos, sempre eleito por Viseu. Foi um dos convidados da edição deste sábado do programa da Renascença "Em Nome da Lei", em que se debateu se a sociedade portuguesa é racista.

O deputado revelou que foi "alvo de várias atitudes discriminatórias ao longo da vida", por causa da cor da sua pele, mas também "por ser oriundo do Interior e de uma família com pouco recursos”.

Sobre o assunto, o centrista diz que não aceita atitudes racistas, mas prefere ter "uma atitude pedagógica” perante esses comportamentos.

Uma das medidas de combate à discriminação das minorias étnicas, que poderá vir a ser aprovada na próxima legislatura, é a aplicação de quotas étnico-raciais no acesso às universidades.

A economista Susana Peralta é "favorável à ideia" e diz que na Universidade Nova, onde dá aulas há 15 anos, "se contam pelos dedos" os alunos luso-africanos que já teve.

A professora de Economia lamenta que o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) tenha recusado fazer uma pergunta sobre a origem étnico-racial da população no Censos 2021. Para Susana Peralta, "é uma oportunidade perdida para sabermos quem são e quantos são os ciganos e afrodescendentes que vivem em Portugal". Teremos de esperar 10 anos por uma nova oportunidade para recolher esses dados”, refere.

Em linha com essa opinião, Catarina Marcelino, deputada do PS e ex-secretária de Estado da Cidadania e Igualdade, defende que “não pode haver políticas públicas sem conhecimento da realidade".

"É absolutamente necessário que, em matéria de combate ao racismo, deixemos de funcionar com base em perceções", sublinha. "O INE tem de fazer um inquérito à população cigana e afrodescendente, uma vez recusada a ideia de integrar no censos de 2021 uma pergunta sobre a origem étnica.”

A deputada socialista, que coordenou o relatório da Assembleia da República sobre “Racismo, Xenofobia e Discriminação Étnico-Racial em Portugal”, defende que “são necessárias medidas de discriminação positiva a favor dos ciganos e luso-africanos”. E admite que “uma dessas medidas pode ser a utilização de quotas no acesso à universidade”.

Essa ideia é rejeitada por André Ventura, líder do partido Chega e alguém quetem feitos declarações polémicas sobre as minorias étnicas no espaço público. Para Ventura, "não faz qualquer sentido que alguém tenha prioridade só porque é cigano".

André Ventura acusa as instituições em Portugal de serem “demasiado tolerantes com costumes e tradições da comunidade cigana”, nomeadamente com aquelas que violam declaradamente a lei, como é o caso do casamento cigano combinado entre famílias, algumas vezes envolvendo menores.

O candidato do PSD à Câmara de Loures nas últimas autárquicas acusa o Estado de ter “medo de enfrentar a questão do casamento cigano”.

André Ventura recusa o epíteto de “racista”, mas reafirma que “a comunidade cigana não se integra e vive maioritariamente de subsídios do Estado".

Já a deputada socialista Catarina Marcelino nega que assim seja e avança números que sustentam a sua posição. “Só 3% dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção são de origem cigana e é-lhes destinada 50% da habitação social."

O debate teve lugar no programa de informação da Renascença "Em Nome da Lei", que este sábado debateu o fenómeno do racismo na sociedade portuguesa.

Este é o último episódio do "Em Nome da Lei", que regressar das férias a 14 de setembro.