Não é só Vitória. Também Vieira "deve sair", defendem Henrique Raposo e Lucas Pires
28-11-2018 - 12:00

Os adeptos benfiquistas, habituais comentadores de atualidade na Manhã da Renascença, "despedem" Vitória, "substituem" Vieira e rejeitam liminarmente Jorge Jesus.

Os adeptos benfiquistas Henrique Raposo e Jacinto Lucas Pires, habituais comentadores de atualidade na Manhã da Renascença, defendem que não é apenas Rui Vitória que deve deixar o Benfica: também o presidente do clube, Luís Filipe Vieira, deve sair.

"É tempo de mudar na presidência. Eu não quero um Benfica à Porto, com um Pinto da Costa eterno, não gosto disso", diz Henrique Raposo, sem deixar de confessar que não tem um nome a propor: "Não estou a ver alternativa, mas isso são outros trezentos."

"Acho que se endeusou demasiado o presidente Vieira, de quem nunca fui grande adepto", remata Raposo.

Jacinto Lucas Pires defende, por sua vez, que "o que se está a passar é muito grave" e, por isso, "Vieira tem de se responsabilizar pelo que está a acontecer".

"Vieira contribuiu negativamente para este estado de coisas, porque criou, com as entrevistas e reacções às controvérsias várias, um ambiente que prejudicou a equipa e a ligação com os adeptos", acrescenta o escritor.

"Antes desta tragédia na Alemanha, já tinha dito e escrito que o presidente devia sair e Rui Vitória devia sair, mas o meu otimismo queria sempre achar que eu próprio tinha sido excessivo, que tinha cedido ao impulso do adepto perante vários maus resultados. Ontem, tive a triste sensação de ter razão", diz, ainda, Lucas Pires.

Equipa "desligada" do treinador

Em relação à posição do técnico da equipa, Henrique Raposo assume que não é defensor "de fazer a chicotada psicológica a cada mau resultado", mas diz ser "evidente, já desde o ano passado, que há um desligar da equipa face à mensagem do treinador".

"Sabemos que Rui Vitória não é aquele treinador espectacular na conferência de imprensa, mas parece-me que está a deixar de ter mão lá dentro. A mensagem dele nunca passou para fora e até dou isso de barato, porque não gosto desse futebol falado, à Mourinho. Mas parece-me que, lá dentro, ele perdeu por completo a mão dos jogadores, a mão do plantel. Quebrou-se a ligação elétrica entre o treinador e os jogadores, parece-me claro", sustenta o comentador.

Raposo considera que "no ano passado, podia-se criticar o presidente por não ter investido na equipa, mas, este ano, a crítica, em primeiro lugar, é para o treinador".

"A equipa estava a jogar muito bem no início de época e, de repente, a seguir ao jogo com o FC Porto, houve um colapso inexplicável", argumenta.

"A equipa está completamente desgarrada e desligada. Eu confesso: não vejo os jogos, agora, porque é penoso. Oiço na Renascença", assume Raposo, lamentando: "Há um desligar emocional entre o treinador e a equipa. As tropas não confiam no general e isso é mortal."

Limites ultrapassados

Jacinto Lucas Pires considera que Rui Vitória "passou os limites" ao afirmar que "foi pena terem calhado" ao Benfica na Champions "duas equipas grandes".

"Estamos a falar do Benfica, do 'Glorioso'. Grandes somos nós e nós é que temos obrigação de ganhar os grupos, seja contra quem for. Essa é a ambição do Benfica", sentencia.

"As soluções estratégicas e táticas esgotaram-se, os adversários conhecem o plano A e o plano B e já sabem que não há plano C neste Benfica. Os buracos da defesa são conhecidos, são quase virais, e há que mudar", critica.

A favor de Vitória, Lucas Pires diz gostar dele "como pessoa pública" e considera-o responsável por "um grande trabalho, naquele momento de crise em que Jorge Jesus saiu".

"Falou com elegância, mostrou carácter e sensatez, não faltava ao respeito a ninguém. Teve a dignidade que se espera de um treinador do Benfica", remata.

Jesus? Nem pensar!

Sobre o eventual sucessor de Rui Vitória no comando da equipa, os dois comentadores da Renascença chegam facilmente a um consenso: Jesus nunca.

"Jorge Jesus não pode voltar ao Benfica. Di-lo-ei as vezes que for preciso", atira Jacinto Lucas Pires.

Para Henrique Raposo, os benfiquistas "têm de deixar de olhar para Jorge Jesus como o Messias que vem salvar o Benfica".

"É inaceitável o regresso de Jorge Jesus", sentencia Raposo.

Leonardo Jardim é o nome que Raposo atira, por ser "um homem com um perfil mais próximo do de Rui Vitória, um perfil com menos arestas".

"É um senhor e, falando de futebol, o futebol de Jardim é muito mais adulto do que aquele futebol de vertigem do Jesus", considera Henrique Raposo.

"Com meios inferiores aos dos adversários, Jardim consegue montar máquinas de futebol muito equilibradas e sólidas. Estou farto do Benfica a viver de vertigens, das vertigens dos jogadores. Quer com Jesus quer com Vitória, o futebol do Benfica tem sido muito dependente dos jogadores, da vertigem e picos de forma dos jogadores. Eu quero um Benfica adulto como o Porto. Ganhamos quatro campeonatos, mas eu continuo a invejar o Porto, que faz grandes campanhas na Liga dos Campeões. Não percebo como é que o Benfica não é capaz de ter uma campanha sólida na Liga dos Campeões", diz Raposo.

Para Jacinto Lucas Pires, "a questão da solidez" não é especialmente preocupante: "Claro que é necessária solidez defensiva e também organização, mas quero brilho, quero rasgo. Falta arte."

"A brincar, já escrevi que o futuro treinador deve ser uma mistura de Guardiola, Klopp e Bielsa", diz, ainda, Lucas Pires, para quem "há treinadores portugueses muito interessantes".

"Não sei se Luís Castro podia ser solução. Marco Silva será mais caro... Há também Leonardo Jardim...", remata o escritor e comentador, sem apostar num nome em concreto.