Durou poucas horas a satisfação dos mercados com o afastamento, para já, de um governo e de um ministro das Finanças eurocéticos em Itália. As bolsas europeias caíram, o euro baixou e os juros da dívida pública (incluindo a portuguesa) subiram. Será mais caro financiar com compras externas a dívida pública de Portugal.
Os partidos populistas que formavam a coligação em Itália – Liga e M5E – alegam que se trata de um atentado à democracia. Nunca, desde 1946, um Presidente da República italiana tinha vetado um ministro, o que agora aconteceu com o eurocético ministro das Finanças escolhido pelos partidos da coligação.
Até Marine Le Pen, que tem estado discreta depois da derrota na eleição presidencial de 2017, veio acusar o Presidente da República de Itália de se submeter à tirania dos mercados em vez de defender a soberania nacional.
Ora, este tipo de argumento populista vai certamente dominar as próximas eleições em Itália. E conquistará votos, como se viu no Reino Unido do Brexit. Quando as pessoas se derem conta dos efeitos desastrosos do seu voto – por exemplo, a saída da Itália do euro – já será tarde.
Entretanto, o próximo Conselho Europeu, daqui a um mês, dificilmente poderá avançar com algo de significativo na reforma do euro, dada a crise italiana. Aliás, a chanceler Merkel – que hoje chega a Portugal – não se tem mostrado disponível para avançar com verdadeiras reformas do euro. Nem mesmo em concluir a união bancária com o previsto seguro europeu dos depósitos bancários na zona euro. Acontece que a opinião pública alemã não é favorável a medidas como essa.
Por isso é provável que o euro atravesse, nos próximos meses, a maior crise da sua história de quase vinte anos. E Draghi, o presidente do BCE que há seis anos prometeu salvar o euro – e cumpriu –, termina o seu mandato em novembro próximo.
Se o euro falhar, a UE terá escassas hipóteses de sobrevivência.