Frederico Varandas. Treinador recusou Sporting porque "não tem paciência para aturar malucos"
28-09-2019 - 21:04
 • Renascença

Com a equipa de futebol numa crise profunda de resultados, o presidente do Sporting garante, em entrevista à SIC, que está triste e partilha o “descontentamento genuíno” dos sócios e adeptos, mas não de quem o faz de forma premeditada e quer o "caos" no clube.

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O presidente do Sporting, Frederico Varandas, admitiu, em entrevista à SIC, que Jorge Silas não foi a primeira opção para treinador. Outros "grandes treinadores, como Leonardo Jardim e Mourinho", rejeitaram a proposta porque "o Sporting é um clube de malucos", afirmou Varandas.

"Isto não envergonha ninguém, muito menos um treinador com a confiança do Silas. Quando Keizer foi despedido, procurámos alternativas, preferencialmente um treinador português com o um grande currículo europeu. Um desejava um projeto para lutar pela Champions. Outro recusou, mas até me disse: 'gabo muito a sua coragem e paciência, mas eu não tenho para aturar um clube de malucos como o Sporting'. Esta é a visão que muitas pessoas têm do Sporting", revelou Frederico Varandas.

O líder leonino confirma que tentou convencer José Mourinho, Leonardo Jardim e outros "grandes treinadores" para substituirem o holandês Marcelo Keizer, mas os treinadores portugueses rejeitaram a proposta por várias razões. Frederico Varandas não confirmou contactos com Abel Ferreira, que atualmente está no PAOK da Grécia.

"Com Mourinho tive uma conversa cordial muito interessante, elogiou o trabalho feito pelas pessoas que estão à frente do Sporting. Ele próprio foi vítima, muitas vezes, do ruido que se instala à volta de quem tem de decidir. No passado, Mourinho não veio para o Sporting por causa desse ruido e se calhar podia dter mudado a história do Sporting. Foi campeão nacional e europeu num rival."

Segundo Varandas, José Mourinho quer orientar uma equipa que lute pela conquista da Liga dos Campeões e "esse projeto não existe em Portugal".

"Outros treinadores não têm paciência para aturar um clube como o Sporting", confessou o presidente nesta entrevista à SIC, admitindo que tem responsabilidades, mas também que liderou o clube nas últimas duas décadas.

“Estou triste, partilho o descontentamento genuíno dos adeptos”, não o premeditado

Com a equipa de futebol numa crise profunda de resultados, o presidente do Sporting garante que está triste e partilha o “descontentamento genuíno” dos sócios e adeptos, mas não de quem o faz de forma premeditada.

“Se há coisa que eu entendo muito bem é o descontentamento genuíno de quem vai a Alvalade, põe o Sporting acima de tudo, o Sporting perde e esse sócio está descontente e triste. Mas tem de perceber que os órgãos sociais eleitos, antes de serem órgãos sociais, são também sportinguistas. Eu estou triste, partilho essa tristeza genuína, esse descontentamento.”

Frederico Varandas afirma que “uma direção se não percebe isso ou não sente ou não percebe o clube” e garante que é o homem certo para dar a volta à situação. “Tenho mão, tenho, e tenho solução. Não é milagres. Isso não há. Existe mão, trabalho e solução", afiançou.

Nesta entrevista à SIC, o líder máximo leonino lança críticas ao que apelida de "descontentamento premeditado", para desestabilizar o clube.

“Paralelamente, existe um descontentamento que eu chamo premeditado, desejado, e esse descontentamento eu não subscrevo. Não sou eu, é o Sporting que tem de combater isso", apela.

Numa analogia com a maratona, Frederico Varandas diz que a equipa de futebol "tropeçou e caiu" no início da corrida, mas "levantou-se e temos 30 quilómetros para recuperar" e "vamos recuperar".

Jogadores sem "paz em Alvalade". Varandas ataca profetas do "caos"

Perante os pedidos de demissão e insultos no final do último jogo em Alvalade, o presidente do Sporting considera que há pessoas que querem "o caos" no clube e "dividir para reinar". A equipa de futebol acaba por apanhar por tabela.

“Acha que os jogadores têm paz quando jogam em Alvalade? Fizeram uma má época? Merecem não ter paz? Acham que não afeta? Afeta. Os sportinguistas não são burros, sabem distinguir o protesto genuíno do premeditado de pessoas que preferem o caos e dividir para reinar”, atirou.

Frederico Varandas considera que "o Sporting precisa de uma direção que ouça e respeite sempre a bancada, mas que não governe para a bancada”.

"Aquelas pessoas insultarem-me ou dizerem que sou o maior, vale zero, vale zero, vale zero. Porquê? Existem minorias do Sporting que preferem o caos para gerar a sua oportunidade. Outras preferem dividir para reinar. Isto é uma política de autodestruição. E são burros, porque quando estiverem lá perceberão que o clube está pior e vão beber do próprio veneno”, sublinha o líder leonino, garantindo que os "insultos não vão mudar nada no rumo" traçado.

"A situação era muito negra. A grande vitória desta direção foi evitar a falência do Sporting"

O presidente do Sporting recuou no tempo para recordar a herança "muito negra" que encontrou quando chegou ao clube, afirmando que a maior vitória da sua direção foi salvar o clube de Alvalade da falência.

Frederico Varandas adverte que, apesar dos títulos do ano passado, a situação não ficou resolvida. "As taças e os títulos europeus nas modalidades são a ponta do icebergue. A grande vitória desta direção foi conseguida este ano: evitar a falência deste clube, conseguir investir na formação para voltarmos a ter estrutura e ferramentas para olhar os nossos rivais nos olhos", declarou.

“Um clube que há um ano estava como estava, em guerra civil, destroços, rescisões de jogadores, um fluxo de pagamento de 225 milhões. Origem nossa? Não. Mas pagámos o que estava para trás. Dívidas a clubes, jogadores, impostos em atraso", elencou.

A nova direção conseguiu realizar, "contra o tempo", duas operações financeiras "decisivas para sobrevivência do clube", porque o Sporting corria o risco de falhar o "fair play" financeiro da UEFA e de não entrar nas competições europeias. E isso foi evitado, salientou.

Frederico Varandas confessa que, na altura, "não estávamos em posição de ir para a praça pública dizer a verdade. A situação era negra, negra, mas muito negra. Não era cinzenta, era negra".

Neste cenário, destaca o presidente, o Sporting teve uma "época brilhante" nas modalidades. "Conquistamos seis títulos europeus, recorde absoluto".

No futebol, o clube conquistou as taças de Portugal e da Liga, e ficou em terceiro lugar no campeonato, falhando o apuramento para a Liga dos Campeões. Para Varandas, a temporada passada não foi brilhante, "mas foi muito boa". "Fizemos melhor há dois, três, quatro, cinco, seis, dez, 11 anos? Não", lembrou.

Varandas e a "máquina" do Benfica

Frederico Varandas faz uma comparação com o Benfica, que ganhou cinco títulos em seis temporadas, para pedir mais tempo para o seu trabalho dar frutos.

“Os adeptos querem é ganhar, mas eu ando na rua e muitas vezes os adeptos dizem: ‘presidente olhe para os nossos rivais, para a máquina que o rival da 2.ª circular tem montada’. Já vi essa máquina, já. Quantos anos demoraram eles a montar essa máquina? Quantos anos demoraram a vencer? Nós estamos a montar.”

O líder sportinguista afirma que "não é numa época que se corrige enganos de duas décadas. Não é numa época nem em duas. A nossa máquina está a avançar", sublinhou.

"Estamos a cavar as fundações e não é fácil tomar estas medidas, que muitas vezes não se veem. Mudámos três relvados da Academia", estamos a "mudar a área digital, comercial, a formação".

"Não tive culpa do abandono da formação nos últimos cinco anos. O investimento da academia é real, é esse o caminho que temos de fazer para gerar riqueza, mas demora tempo e, se os sportinguistas não perceberem isto, então é o Sporting que não tem tempo, e é este o rumo. Vou dar tempo a Silas e a estrutura que está a crescer”, garantiu.

Silas é "jovem, competente, corajoso"

Frederico Varandas deixou elogios à nova equipa técnica liderada por Jorge Silas, que se destacou ao serviço do Belenenses.

“É uma equipa técnica jovem, competente, com coragem, que vai crescer. É um treinador que joga como equipa grande, como o Sporting tem de jogar, vai tirar o melhor daqueles jogadores”, sublinhou.

O presidente conta que Silas acredita no plantel e que lhe garantiu que "qualidade não falta na equipa".

“Silas não tem medo de apostar em jogadores independente do BI e idade. Silas é o treinador escolhido por nós, tem de fazer a equipa crescer e vai fazê-lo”, afirmou.

Keizer, o inadaptado. Falha no caso Pedro Mendes

O presidente do Sporting disse que o treinador holandês Marcel Keizer deixou o clube porque "teve dificuldades em adaptar-se ao futebol português".

"Foram sinais. mais do que os resultados, a maneira como se perdiam os jogos, como não se controlavam os jogos. Marcel Keizer, apesar dos títulos, estava na hora de mudar", justificou.

Frederico Varandas saiu em defesa da "estrutura" do futebol do Sporting, nomeadamente de Hugo Viana e Beto Severo, e considera que "não é por ai que as coisas vão correr mal".

Admitiu erros no caso da não inscrição de Pedro Mendes, melhor jogador dos Sub-23, na I Liga, e explicou o que aconteceu.

O antigo treinador Marcel Keizer "não apostava nem acreditava" em Pedro Mendes e decidiu não o incluir na lista de jovens inscritos para o campeonato.

"Keizer sai no último dia de aprensentação das listas, houve inúmeras decisões tomadas em contrarrelógio. Para nós, é óbvio que se tivéssemos tempo, faria todo o sentido Pedro Mendes fazer parte dessa lista para o campeonato", reconhece.

Para Frederico Varandas, "ninguém melhora sem perceber os erros que cometeu. E nós cometemos vários". "Essa escolha foi do treinador, mas se calhar devia haver capacidade de, quando se muda de treinador, alterar a lista", remata.