​Grave situação em Moçambique
31-03-2020 - 06:30

A pandemia do coronavírus chegou a Moçambique. Neste país pobre e mártir sucedem-se as tragédias. O que se passa no Norte do país, na região de Cabo Delgado, é porventura o caso mais dramático, pelo menos até que a pandemia assuma as previsíveis proporções.

A pandemia do coronavírus tomou conta de quase todas as notícias que nos chegam. É natural, dada a gravidade inédita desta pandemia. Mas importa, por vezes, reparar noutros factos que acontecem em Portugal e no mundo.

É o caso de Moçambique, onde na semana passada surgiu o primeiro caso de infeção pelo coronavírus. O previsível aumento de infetados poderá revelar-se uma nova tragédia para Moçambique.

Mas o mais imediato e mais preocupante, agora, é a situação terrível no Norte do país. O jornalista António Rodrigues tem sido uma exceção no generalizado silêncio, entre nós, sobre o que ali se passa. Foi nos seus três artigos no “Público”, na semana passada, que colhi a maior parte da informação que aqui comento.

País muito pobre, Moçambique tem sido vítima de sucessivas desgraças. Há anos foram descobertos desvios de dinheiro doado por países estrangeiros, incluindo Portugal, levando à suspensão de boa parte da ajuda financeira externa. Depois foi o ciclone, seguido de mortíferas inundações, no centro do país, provocando imensa destruição; a situação encontra-se hoje longe de estar recuperada. E não cessaram os conflitos pontuais promovidos por alguns elementos da Renamo, que não aceitam o acordo de paz assinado com a Frelimo. Quase tudo tem atingido Moçambique.

O que se passa no Norte do país, na zona de Cabo Delgado, é, porventura, ainda mais dramático do que as outras desgraças. Foi ali descoberto gás natural, que poderia vir a ser uma ajuda preciosa à debilitada economia moçambicana quando, daqui a cerca de três anos, o gás começar a ser extraído e comercializado. Só que o Norte de Moçambique desde 2017 tem vindo a ser alvo de ataques cada vez mais violentos de radicais islâmicos, que pretendem ali criar um novo “Estado”, regido pela “sharia” (lei islâmica). Já se contam mais de 300 ataques, que têm morto muita gente (mais 700 pessoas) e levado as populações, desesperadas, a fugirem – há mais de cem mil deslocados.

As empresas petrolíferas internacionais envolvidas na prospecção de gás natural (entre as quais a Galp) defendem-se com exércitos privados. Mas o Estado moçambicano mostra-se incapaz de proteger as populações. Por isso apelou à ajuda internacional. A Rússia enviou um grupo de mercenários, mas as coisas não correram bem – vários mercenários foram mortos e o grupo abandonou Moçambique.

No ambiente sem lei nem ordem, predominante no Norte do país, proliferam ali tráficos de droga, de pedras preciosas, de marfim, etc. E, como acima referi, na semana passada surgiu o primeiro caso de infeção, em Moçambique, de coronavírus. Uma pandemia para a qual o país tem escassos meios de combate, podendo tornar-se uma tragédia de grandes proporções.

Pobres moçambicanos!