​Conferência dos Oceanos. Rússia envia delegação sem ministros a Lisboa
15-06-2022 - 19:25
 • Manuela Pires

A Conferência das Nações Unidas vai reunir 18 chefes de Estado e de Governo. 80 países participam a nível político. Da Rússia vem um enviado especial dos oceanos. A Ucrânia vai também enviar uma delegação a Lisboa.

“Esta é uma Conferência das Nações Unidas, a Rússia é membro da ONU e por isso participa nesta conferência”. A explicação é do ministro dos Negócios Estrangeiros, questionado sobre a presença russa na Conferência dos Oceanos, que vai decorrer em Lisboa, entre os dias 27 de junho e 1 de julho.

João Gomes Cravinho diz que a representação não será a nível ministerial, mas apenas “um enviado especial para questões dos oceanos e do clima, não será um ministro”.

Aliás, o ministro esclarece ainda que “as sanções da União Europeia que são vinculativas para Portugal têm uma alínea específica que excepciona casos como este”.

Também a Ucrânia vai enviar uma delegação à Conferência dos Oceanos, que vai juntar em Lisboa na última semana do mês 18 chefes de Estado e de Governo.

Confirmados até agora estão os chefes de estado de Angola, Colômbia, Equador, França, Gabão, Gana, Guiné Equatorial, Líbia, Maldivas, Micronésia, Mónaco, Namíbia, Nigéria, Quénia, Togo e a princesa herdeira da Suécia.

A esta conferência das Nações Unidas vão juntar-se ainda os primeiros-ministros do Barbados, Belize, Cabo Verde, Noruega e Tonga.

O vice-presidente da comissão organizadora da conferência, Alexandre Leitão, disse ainda aos jornalistas, numa sessão no Ministério dos Negócios Estrangeiros, que até agora 143 países registaram delegados à conferência.

Está prevista ainda a presença de oito subsecretários gerais de várias agências da ONU, entre elas a FAO, UNESCO.

Mas para além da conferência vão realizar-se em Lisboa centenas de eventos paralelos, um deles um Fórum da Juventude e da Inovação, de 24 a 26 de junho no Campus da Nova SBE, Carcavelos.

No Porto de Matosinhos vai realizar-se um evento de alto nível sobre Governação ao nível Local e Regional e para o Centro de Congressos do Estoril está marcado o Fórum sobre Economia Azul Sustentável e Investimento.

Portugal espera receber, para além dos líderes mundiais, representantes de “1.178 outras entidades, da academia ao setor financeiro e económico, organizações não-governamentais, fundações e outros parceiros”, refere o responsável pela organização da Conferência dos Oceanos da ONU.

Costa Silva pede “choque epistemológico”

A declaração de Lisboa, que vai sair desta conferência, não vai estabelecer metas nem objetivos quantificados para os Estados-membros cumprirem no que toca à preservação dos oceanos.

“Contém muitos compromissos, mas não contém obrigações”, esclarece o ministro dos Negócios Estrangeiros, que adianta, no entanto, que a declaração de Lisboa “reflete a forma como hoje se pensa os oceanos e é uma evolução muito positiva em relação a épocas anteriores”, conclui João Gomes Cravinho.

Numa sessão de apresentação da Conferência, o ministro da Economia e do Mar disse esperar que esta conferência seja um ponto de viragem.

António Costa Silva lembrou que os oceanos são 70% da superfície da terra, contêm 90% da biodiversidade do planeta, 50% do oxigénio, e “estão doentes, os oceanos estão a aquecer e há 11 milhões de toneladas nos mares”.

Por isso, o ministro que tutela o mar espera que esta conferência seja “um choque epistemológico, uma mudança clara na perceção das pessoas e dos decisores sobre a necessidade de ação, e é por isso que a ação está no lema desta conferência” referiu o ministro aos jornalistas.

António Costa Silva defende ainda outras mudanças e que o conhecimento, a ciência e a tecnologia estejam no “cerne da nossa relação com os oceanos”.

O ministro da Economia e do Mar diz que, até agora, a relação que temos com os oceanos tem sido cega, “ baseada nos instintos predatórios e convertemos os oceanos numa espécie de casa de banho do planeta e chegou a hora de dizer não”,

Para além disso, há ainda que investir na bio-economia azul, porque os oceanos podem fornecer mais energia, e também pode contribuir para a alimentação. “Não nos podemos esquecer que estamos a enfrentar uma crise alimentar e o uso das algas vai ser fundamental não só para Portugal, mas também para a Europa", refere António Costa Silva.

Em Lisboa vão estar mais de três mil empresários com capacidade para investir em atividades sustentáveis relacionadas com os oceanos.