Casa do Impacto. ​“É um desafio criar uma startup de transformação social”
04-07-2023 - 16:00
 • Diogo Camilo , Filipa Ribeiro

A Ubbu e a MyPolis são dois dos 60 projetos do ecossistema de empreendedorismo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e que ensinam jovens - e não só - a programar para o futuro e a aumentar a participação política hoje.

É nas traseiras do Convento de São Pedro de Alcântara que encontramos a Casa do Impacto, a barriga que carrega alguns dos projetos de inovação social - startups, empresas e organizações públicas - da qual a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é mãe.

Depois de passarmos pelos corredores labirínticos do edifício encontramos Francisca Veloso, a diretora de produto e design da Ubbu, que confessa à Renascença que “ainda se perde um bocadinho”.

Focada no ensino de programação para crianças e adolescentes, a empresa foi uma das primeiras a chamar lar à Casa do Impacto. Fundada em 2015, a empresa tem agora 15 pessoas e foi responsável por proporcionar aulas a 100 mil crianças de 20 países diferentes.

“Estamos a informar e a ensinar as crianças a ter as skills necessárias para as profissões do futuro. Não sabemos quais vão ser as profissões do futuro. Na sala de aula, entre ligar o computador ou colocar uma palavra-passe, tudo é novidade”, diz ao podcast Dar Voz às Causas.

Em Portugal, através de acordos com municípios, a Ubbu chegou a 330 agrupamentos escolares e a 45 mil crianças com idades entre os 6 e 13 anos.

Aqui, o objetivo é dar literacia computacional às crianças através de jogos, seja a encontrar as teclas do computador, a ensinar a linguagem de código através de jogos com personagens.

E este caminho é feito também em parceria com outras empresas e startups da Casa do Impacto, como é o caso da Maze. “Só estarmos aqui todos no mesmo espaço acaba numa aproximação entre vários projetos”, afirma Francisca Veloso.

Aqui, o objetivo é dar literacia computacional às crianças através de jogos, seja a encontrar as teclas do computador, a ensinar a linguagem de código através de jogos com personagens.

E este caminho é feito também em parceria com outras empresas e startups da Casa do Impacto, como é o caso da Maze. “Só estarmos aqui todos no mesmo espaço acaba numa aproximação entre vários projetos”, afirma Francisca Veloso.

"É um desafio maior criar uma startup de impacto"

Ao longo de cinco anos, desde a criação da Casa do Impacto, mais de 350 projetos foram apoiados: um investimento total superior a 2,5 milhões de euros que já incubou 60 startups, uma verdadeira ‘fábrica dos unicórnios’ que já existia antes da célebre frase de Carlos Moedas durante a Web Summit do ano passado

Outro dos projetos de sucesso é a MyPolis. Criada por três irmãos em 2018, a plataforma em forma de jogo de literacia democrática mudou-se para a Casa do Impacto quando o edifício estava ainda em obras e os tempos livres eram passados a jogar ping-pong. O convite surgiu após a ideia ter vencido um prémio da Santa Casa.

“Criamos oportunidades para que os jovens possam participar, apresentar ideias para as suas cidades, colaborar com as autarquias para que possam colocar os projetos em prática e verem a transformação a acontecer de forma colaborativa na comunidade”, diz Bernardo Gonçalves, o fundador e CEO.

A semente da MyPolis surgiu quando Bernardo estava ainda na universidade, depois de perceber que o afastamento dos jovens da vida política “é também um problema social”.

“Quando estava na associação de estudantes da minha faculdade, a Nova de Economia [Nova School of Business and Economics], senti que seria ótimo se fosse auscultando os meus colegas. Isto num universo de quatro mil alunos que representava. Senti que era um problema real, que a nossa democracia representativa está doente porque precisa de mais envolvimento comunitário.”

O objetivo da MyPolis passa por aumentar a participação política e a consciência de cada um para o papel que podem ter no dia a dia. Na aplicação é possível votar em propostas políticas e lançar desafios para a comunidade, criando um perfil de cidadania que incentiva a participação cívica dos cidadãos.

Ao mesmo tempo que serve as pessoas, serve também os políticos, que percebem que impacto está a ter o seu trabalho e o que podem pelos seus munícipes.

No seu primeiro ano de existência, o jogo venceu o prémio de Democracia Digital da Representação da Comissão Europeia em Portugal e hoje emprega 16 pessoas, dando ainda formações sobre literacia democrática em escolas, do 1.º ciclo ao ensino secundário. Mas o caminho não foi fácil.

“É um desafio criar uma startup, é um desafio ainda maior criar uma startup de impacto, em que o principal objetivo é criar transformação social. Preocupa-me todos dias a questão da sustentabilidade financeira, das vendas”, diz, destacando o papel dos mentores da Casa do Impacto no crescimento do projeto, além do apoio financeiro e da cedência do espaço.

Um ecossistema de 60 negócios, com vista para o futuro, em que jovens empresários constroem ideias vencedoras - e com impacto na sociedade.