Depois da invasão em Brasília
11-01-2023 - 06:30
 • Francisco Sarsfield Cabral

Na esteira de Trump, os adeptos de Bolsonaro invadiram e vandalizaram o cerne da democracia brasileira. Esta resistiu, mas tem pela frente um caminho muito difícil.

Os apoiantes de Bolsonaro em Brasília invadiram ministérios, a sala de audiências do Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Este ataque é parecido com a invasão do Capitólio por apoiantes de Trump em 6 de janeiro de 2021. Não sabemos se houve contactos entre ambos. Sabemos que Trump declarou guerra à democracia e quer espalhar pelo mundo essa funesta causa.

“Lula roubou a eleição! E os brasileiros sabem-no...”, declarou Steve Bannon, ex-ideólogo de Trump, citado pelo jornal Le Monde, que sublinha a satisfação do personagem perante as imagens na TV da invasão e do vandalismo em Brasília. Esta figura empenhou-se nos últimos anos a difundir pelo mundo a ideologia antidemocrática de Trump, felizmente com escasso sucesso.

Foi quase geral a condenação internacional a este atentado à democracia. As autoridades portuguesas foram as primeiras a manifestar apoio a Lula e à democracia no Brasil.

No caso de Brasília é preocupante a complacência de, pelo menos, parte da polícia brasileira face aos desordeiros. É mais um sinal do que pode acontecer se as forças de segurança tiverem sido infiltradas por ideologias fascistas ou próximas disso.

As foças armadas não responderam aos apelos dos “bolsonaristas” para que, através de um golpe de Estado militar, depusessem o presidente Lula. Mas essa ameaça ainda não foi definitivamente afastada.

Lula prometeu investigar os promotores e os financiadores da invasão. É importante que o faça, mas terá de manter a sua promessa de unir os brasileiros. Na democracia brasileira parece, se não impossível, pelo menos muito difícil alcançar os dois objetivos.

A partir da Florida, para onde partiu de maneira a não entregar a Lula a faixa de presidente, Bolsonaro não condenou claramente a invasão dos seus apoiantes, apenas criticou os estragos que estes fizeram. Como se tudo o que vimos não tivesse sido planeado...

A propósito dos acontecimentos em Brasília, o jornal conservador espanhol ABC evocou uma frase de Bolsonaro que o define. Disse ele que a ditadura militar brasileira, que ele aprecia, cometeu um erro: prendeu e torturou os adversários, em vez de os ter liquidado.