Zero graus. O Pólo Norte está 30.ºC mais quente
02-03-2018 - 09:25
 • André Rodrigues , Paulo Teixeira (sonorização)

Enquanto a Europa treme de frio, o Pólo Norte enfrenta uma vaga de calor. As temperaturas positivas no círculo polar ártico são um fenómeno em crescente aceleração e preocupam os cientistas. Aconteceram por quatro vezes entre 1980 e 2010. E por quatro vezes se repetiram nos últimos cinco invernos.

35 graus negativos na Rússia. 12 negativos na Polónia. Menos 10 na França. Neve como há muito não se via no Reino Unido.

E neve no Marão, na Serra da Estrela e em tantas outras terras altas do país.

Andamos nós aqui a tremer de frio, a queixar-nos da chuva, da neve e do gelo, das estradas encerradas, das escolas que não abrem por causa do mau tempo.

Mas desde quando é que a neve, a chuva e o frio no inverno são mau tempo?

Afinal, dizem os especialistas, seria necessário chover assim pelo menos mais um ou dois meses para deixarmos de falar de seca.

O tempo, normal para a época, obriga-nos a tirar mais casacos do armário, obriga-nos a andar de gorro, de cachecol e de guarda-chuva atrelado.

Admita. É uma chatice. Mas é normal.

E não sabemos muito bem por quanto mais tempo poderemos gozar desta normalidade climática.

A onda de calor que atinge o Pólo Norte trouxe os termómetros até aos zeros graus estimados, por causa do aquecimento no circulo polar ártico. São mais 20 a 30 graus acima do normal.

Há cerca de uma semana, o Instituto Meteorológico Dinamarquês registou uma temperatura de seis graus no extremo norte da Gronelândia. E é a partir desse valor que os modelos matemáticos chegam aos tais 0.0 graus no Pólo Norte.

Um quadro alarmante, dizem os cientistas. Sobretudo atendendo à habitual ausência de luz solar no inverno ártico. Não há, por agora, indícios suficientes para afirmar que isto é fruto das alterações climáticas.

Mas se pensarmos que nos últimos cinco invernos, quatro tiveram temperaturas positivas - e que apenas por quatro vezes se tinham registado temperaturas acima do zero entre 1980 e 2010 - aí é outra história.

Este é o sinal de alerta para futuro: se a Europa congelada não é uma boa notícia, o degelo no Ártico muito menos.

E os especialistas em clima acreditam mesmo que o Oceano Ártico poderá deixar de ter gelo. Lá para meados do século.

E essa é a pior das previsões e terá de implicar uma profunda remodelação dos espaços urbanos, sobretudo junto às praias e às zonas ribeirinhas.

Se não for a bem, vai ser a mal. Mais cedo ou mais tarde, a Natureza impõe-se.

E é muito difícil contrariá-la.