"Temo que façam no Líbano o mesmo que fizeram em Gaza", diz jornalista libanesa
27-09-2024 - 19:46
 • Pedro Mesquita

Jornalista Nicole Hamouche conta à Renascença que Israel está a bombardear zonas cristãs do Líbano, e não apenas o Hezbollah. O dia a dia no país, diz, "é terrível".

Nicole Hamouche descreve à Renascença os dias de "enorme ansiedade" que se vivem no Líbano, por causa dos bombardeamentos aéreos israelitas mas também pelo receio de um eventual ataque terrestre por parte do Estado Judaico.

A partir de Beirute, esta jornalista libanesa diz recear que aconteça no Líbano o mesmo que se está a passar em Gaza. Não lhe parece que, por agora, Israel vá parar.

"Vivemos numa enorme ansiedade, com um enorme receio. Tememos muito aquilo que se está a passar, e não apenas a possibilidade de um ataque terrestre. Receamos o que se está a passar agora, os bombardeamentos aéreos. Estão a bombardear não apenas o Hezbollah, mas também lugares, por exemplo, na zona cristã", sublinha Nicole Hamouche. "Dou-te um exemplo: sou cristã, não tenho nada a ver com o Hezbollah e Israel está a bombardear aldeias cristãs. Às vezes eles dizem que estão perto de uma aldeia onde se escondem elementos do Hezbollah mas às vezes não entendemos porquê, porque não há lá ninguém, é uma zona cristã".

"O Hezbollah é muito, muito forte. Muito mais organizado, muito mais forte que o Hamas"

Se o ataque israelita também acontecer por terra, Nicole Hamouche acredita que haverá forte resistencia por parte do Hezbollah. É isso, pelo menos, o que tem ouvido de todos analistas no seu país: "Dizem é que a superioridade do exército israelita está mais na sua Força Aérea. Mas se entrarem, se fizerem um ataque terrestre, o Hezbollah é muito, muito forte... Com as suas armas e os seus túneis. Então, penso que também Israel pode sofrer muitos danos no seu exército. Não sei", confessa Nicole.

"Haverá uma resistência muito forte, claro que sim. Não se rendem. o Hezbollah é muito, muito mais organizado, muito mais forte que o Hamas", sublinha a jornalista.

"Em Beirute as ruas estão completamente desertas, está tudo fechado"

A jornalista libanesa conta que "o dia-a-dia é terrível" no seu país. "Toda a gente no sul fugiu. Cerca de 200 mil pessoas foram para as montanhas, para as zonas cristãs".

Nicole Hamouche acrescenta que também a capital, Beirute, onde ainda se encontra, está praticamente deserta: "A maioria das pessoas que têm apartamentos nas montanhas, ou fora da cidade, já se foi embora. As ruas estão completamente desertas, está tudo fechado".

Por agora, esta jornalista libanesa vai permanecer em Beirute: "Infelizmente, sim". E acrescenta, de imediato, uma frase que traduz todo o seu receio: "Temo muito que façam no Líbano o mesmo que fizeram em Gaza, e por agora não me parece que Israel vá parar".