​Uma economia favorável a Trump
20-02-2020 - 06:34

A economia americana continua a atravessar o mais longo ciclo de crescimento da sua história. E os salários baixos estão a subir. Mas as desigualdades de rendimentos poderão intensificar-se.

A economia dos EUA está a crescer há 128 meses seguidos – e não se sabe se e quando o crescimento irá parar. É o mais longo ciclo de expansão na história desta economia, o que certamente beneficiará Trump na sua tentativa de ser reeleito em novembro. Também favorável a Trump é a recente tendência para os salários mais baixos subirem a ritmo superior à subida dos vencimentos dos melhor pagos.

O baixo nível do desemprego explica boa parte da aceleração recente na melhoria dos salários baixos, uma vez que os patrões têm agora que pagar mais para contratarem novos trabalhadores. E o poder de compra dos americanos não foi prejudicado por altos níveis de inflação, ao contrário do que tantas vezes aconteceu no passado.

Curiosamente, esta subida dos salários baixos atenua o facto de a reforma dos impostos promovida por Trump ter beneficiado sobretudo os ricos (apesar da propaganda que classificava o Presidente de grande amigo dos que ficaram para trás no progresso tecnológico e económico). Mas as desigualdades de rendimentos não desapareceram e até poderão intensificar-se a partir do próximo ano, concentrando-se cada vez mais a riqueza em 1% dos mais ricos, segundo previsões do organismo orçamental do Congresso de Washington.

Aliás, calcula-se que o consumo - que tem sido o principal motor da economia americana – poderia ter crescido 5% mais entre 1979 e 2007 nos EUA, caso as desigualdades tivessem sido menores. É que, quando sobem os salários baixos, uma grande parte dos ganhos levará a consumo acrescido, pois se trata de necessidades básicas; já a subida dos rendimentos dos que são ricos, ou perto disso, não conduzirá a aumentos significativos no consumo – uma vez que eles já possuem quase tudo do que precisam para a sua vida diária.

Por outras palavras, o agravamento das desigualdades de rendimentos trava o crescimento económico. Aí está mais uma razão para tentar atenuar essas desigualdades, que afetam a coesão social e são, muitas vezes, moralmente inaceitáveis.