"Às vezes há polémicas", mas "Lisboa está a tempo de fazer uma JMJ histórica"
01-02-2023 - 19:25
 • Ângela Roque

Diretor executivo da JMJ de Madrid de 2011 fala do impacto económico que o evento teve em Espanha, onde os custos foram suportados com as inscrições e com donativos de empresas e de particulares. À Renascença, Yago de la Cierva garante que, seja qual for o modelo de financiamento, o retorno é sempre positivo para as cidades anfitriãs. E não tem dúvidas de que o encontro de Lisboa será “dos mais importantes de sempre”.

A Jornada Mundial da Juventude de Madrid, que se realizou em 2011, custou cerca de 52 milhões de euros, mas o Estado espanhol só teve a cargo praticamente as despesas normais, por exemplo, com a segurança do evento. O financiamento foi feito com as inscrições dos jovens e com os donativos de privados.

“Os peregrinos cobriram dois terços dos gastos, e as empresas que quiseram participar no programa de patrocínio, cobriram um pouco mais de um terço”, diz à Renascença Yago de la Cierva. O diretor executivo da JMJ em Espanha lembra que a ideia foi sempre fazer “uma reunião de jovens para jovens, em grande medida financiada por eles”, e não pediram ajuda económica ao Estado. Ainda assim estão “muito agradecidos pelo muito que fizeram, tanto o governo central como a Comunidade de Madrid e a cidade”.

“Eles garantiram o que mais ninguém podia fazer, como a polícia, a segurança pública. Mas também pedimos que nos facilitassem locais de alojamento, e abriram escolas, mas nós tratámos de tudo, das camas e da alimentação, e no fim voltámos a arrumar tudo. E essa foi a ajuda do Estado”, exemplifica Yago de la Cierva, lembrando o momento particularmente difícil em que o evento se realizou.

“Não pedimos dinheiro, em primeiro lugar, porque Espanha estava em crise e, em segundo lugar, porque pensámos que a única coisa que podíamos pedir era que o Estado concedesse benefícios fiscais iguais aos que concedia em outros grandes eventos, como uma Copa América ou a final da Champions League. Queríamos ser iguais, que nos ajudassem como ajudam nessas ocasiões”.

Financiamento? Cada JMJ é um caso

Sobre a JMJ de Lisboa, este responsável - especialista em comunicação e gestão de crises da IESE Business School, da Universidade de Navarra - não se surpreende com a recente polémica à volta dos custos, em particular com o altar-palco que está a ser construído na Parque Expo, junto ao rio Trancão, onde vão decorrer os principais momentos religiosos com o Papa, durante a Jornada. Mas lembra que não há um único modelo de financiamento.

“Há muitas maneiras de organizar economicamente a Jornada Mundial da Juventude. Em Madrid não pedimos ajuda ao Governo, mas houve outras JMJ onde os governos apoiaram, como na JMJ do Rio de Janeiro, na JMJ de Roma ou na Sidney. É normal que os Estados ajudem, porque é muita gente que vem, é o evento juvenil mais importante do mundo. E porque vai ter um retorno económico forte”.

“Há muitos modelos de financiamento, o que é importante é falar, discutir isso em público, que haja transparência. E que o Estado, se pode ajudar, que ajude, porque é uma boa causa. Mas há que ver as circunstâncias, porque se há casos em que é bom, noutros é um problema para a opinião pública, como era o caso de Espanha”.


Encontros com os media de 15 em 15 dias

Yago de la Cierva, que já acompanhou várias edições da Jornada Mundial da Juventude, garante que “nenhuma acabou mal, no final todos dizem que foi um êxito, uma maravilha, e que gostariam de voltar a organizá-la”.

Em Madrid houve muita preocupação em mostrar que aquele era um evento “de toda a sociedade espanhola, e em particular da capital”, por isso a comunicação foi uma das maiores apostas. “Nos dois anos anteriores à JMJ tivemos centenas de ações de apresentação, para explicar o que íamos fazer. Tínhamos conferências de imprensa a cada duas semanas, e a sociedade madrilena e espanhola reagiram muito bem”, recorda.

A organização pediu à consultora Price Water House Coopers (Pwc) que fizesse um estudo sobre o impacto que a JMJ ia ter na economia espanhola. “O que nos disseram é que as autoridades públicas iriam arrecadar quase 30 milhões de euros de impostos por tudo o que se ia passar. Portanto, era bom para todos”.

E no final do evento, todos agradeceram. “Quando a JMJ acabou, pedimos a uma empresa de sondagens que fizesse um balanço e perguntasse aos habitantes de Madrid, aos voluntários e peregrinos, aos meios de comunicação e às empresas patrocinadoras, o que tinham achado. E o êxito foi total! Todos ficaram contentes!”, lembra.

Conta, ainda, que depois do evento receberam “centenas de cartas de restaurantes, lojas de recordações, museus, como o do Prado, a agradecer-nos, porque tinha sido uma ocasião muito boa para eles, e histórica, em muitos sentidos”, o que o leva a dizer que “em Lisboa vai-se passar o mesmo. Há algumas polémicas, mas irão dar-se conta que é uma maravilha ter a cidade cheia jovens, com um espirito construtivo, pacífico, alegre, divertido e cristão. Verão que será um dos momentos mais importantes da história da cidade. Provavelmente será a concentração humana mais importante da história de Portugal”, sublinha.


“Seis meses chegam para organizar bem uma JMJ”

Para a JMJ de Madrid, Yago de la Cierva liderou uma equipa de mais de 500 voluntários. “Era uma equipa enorme, de vários profissionais, e centenas de voluntários de todas as cidades que trouxeram muitos conhecimentos de engenharia, arquitetura, de organização, de finanças, um pouco de tudo”, lembra. O trabalho começou mais de dois anos antes. “Reunimos pela primeira vez, e já com planos feitos, em março de 2009, ou seja, aproximadamente 29 meses antes da Jornada”.

Diz que, até agora, Portugal não lhe pediu ajuda, mas quer Madrid, quer Cracóvia, ou qualquer outra cidade que já recebeu a Jornada, podem dar apoio à organização da Jornada de Lisboa. “O ideal seria Cracóvia ou Madrid, porque são cidades europeias, com características mais parecidas, quer nos peregrinos, quer até no tipo de meios de comunicação”, refere, lembrando que no final da JMJ de Madrid fizeram um livro a contar a experiência, “para que eventos próximos evitassem os nossos erros, e pudessem repetir o que fizemos bem. Se nos pedirem ajuda, evidentemente que estamos dispostos a ajudar”.

Apesar da polémica com os custos do altar-palco junto ao Trancão, e de só faltarem seis meses para o evento, acredita que Lisboa vai acolher um dos encontros mais importantes de sempre. “Em menos de seis meses organiza-se perfeitamente uma Jornada Mundial da Juventude. Há que trabalhar muito, não perder tempo, mas Lisboa está perfeitamente a tempo de fazer uma JMJ histórica, a melhor de sempre. Vão ser dias absolutamente históricos para a cidade, porque nunca vai estar tão alegre e tão juvenil como na Jornada deste verão”.