"É indigno" ter de se pagar por um colchão para dormir
30-03-2023 - 09:00
 • Henrique Cunha

Obra Católica Portuguesa das Migrações denuncia casos de exploração de migrantes que trabalham por turnos e que não tem posses para alugar uma casa ou um quarto e que têm de pagar para dormir algumas horas num colchão.

A Obra Católica Portuguesa das Migrações(OCPM) denuncia haver “quem peça uma quantia monetária por um colchão”.

A diretora da organização, Eugénia Quaresma, adianta à Renascença que há migrantes a pagar para poderem dormir algumas horas num colchão, vulgarmente “chamado de 'cama quente', em que as pessoas trabalham por turnos e o colchão vai rodando”.

“Infelizmente, temos casos desses em Portugal”, sublinha a responsável, alertando para a "exploração das pessoas que não conseguem pagar o aluguer de uma casa ou de um quarto".

Eugénia Quaresma admite que “há falta de fiscalização” para este tipo de situações, lembrando, por exemplo, o que sucedeu em Lisboa, no inicio de fevereiro, quando um incêndio provocou duas mortes, "deixando a nu as paupérrimas condições de alojamento de migrantes".

Noutro plano, Eugénia Quaresma defende a necessidade de as soluções para o problema da habitação em Portugal serem encontradas com o envolvimento de quem está no terreno.

A diretora da OCPM considera “muito importante que neste trabalho gigante que é governar, se governe, de facto, com o poder local e que as autarquias não se esqueçam de envolver as pessoas, não se esqueçam de envolver as instituições de apoio social, não se esqueçam de falar com os interessados”.

“Que as medidas tomadas sejam medidas justas, que não causem tensão social”, apela.

Nestas declarações à Renascença, Eugénia Quaresma recorda que “algumas autarquias se queixam de não terem sido ouvidas” no processo legislativo em curso sobre a habitação e sublinha a importância de não se excluir ninguém porque “a questão da habitação não afeta apenas os migrantes e as pessoas mais vulneráveis, mas afeta toda a população".

“Afeta estudantes, sobretudo estudantes universitários, afeta professores em mobilidade que não conseguem encontrar uma casa compatível ao seu ordenado, afeta a grande maioria dos portugueses”, reforça.