O pediatra e intensivista Francisco Abecasis tem sido uma das vozes mais ativas que se opõem à vacinação de menores de idade, e teme que as crianças entre os cinco e os 11 anos cujos pais decidam pela não vacinação sejam discriminadas. O médico garante que não conhece nenhum pai que vacine o filho pelo risco da doença.
“A maioria esmagadora vai vaciná-los para os filhos não serem obrigados a isolamentos mais prolongados e a serem testados todas as semanas”, explicita o médico que segue inúmeras crianças.
E concretiza: “Os pais vão vacinar os filhos para os proteger das medidas sanitárias impostas e não do vírus”.
Depois da conferência de imprensa desta sexta-feira à tarde, Francisco Abecasis quis deixar uma mensagem e um apelo.
A primeira tem como destinatários os pais: “Uma mensagem de tranquilidade para os pais, porque quer o risco da doença, quer o risco da vacina, felizmente, nas crianças é muito, muito reduzido. Nem as crianças estão em risco de ter doença grave, mas também não estão em risco de ter grandes efeitos secundários da vacina”.
Já o apelo tem como destinatários as autoridades de saúde e o Governo, e este é o ponto, que sublinha, mais o preocupa. “É dito e redito que não se discrimina as crianças que não estão vacinadas, mas todos nós sabemos que isso não é verdade. Sinto isso na pele todos os dias”, refere, dando o exemplo dos filhos adolescentes.
“As crianças são discriminadas porque as que não estão vacinadas, mesmo que tenham testes negativos têm de ficar em isolamento profilático, e as que estão vacinadas não têm”, critica.
O pediatra considera esta medida injusta porque tanto os vacinados como os não vacinados podem ter casos positivos, e ainda assim os “não vacinados são sujeitos a testes e mais testes”.
Uma forma de vacinar indiretamente
Esta diferenciação, numa criança de cinco ou seis anos, segundo Francisco Abecasis além de “não ser justa” é “uma forma de obrigar os pais a vacinar os filhos”.
Apesar da diretora-geral da Saúde ter sublinhado que não existiria discriminação em relação às crianças que não se vacinem, Abecasis não ficou convencido e lembra que, logo a seguir Graça Freitas disse que seria obrigatório o teste porque “esse é o preço que a sociedade exige”.
Ou seja, “não obriga, mas obriga a testar”. “É uma forma indireta de obrigar”, lamenta.
Ainda assim, pede para não transpor para as crianças abaixo de 12 anos, “aquilo que é feito às crianças mais crescidas”. “Se há tanta dúvida e tanta divisão, não é lícito obrigar um pai a vacinar um filho”, argumenta.
A possibilidade aventada pelo epidemiologista e membro da Comissão Técnica de Vacinação, Manuel Carmo Gomes, de a ausência de vacinação poder levar a 600 a 900 internamentos de crianças entre os cinco e os 11 anos não impressionam este intensivista do Hospital de Santa Maria.
“O que sabemos é que já tivemos vários picos pandémicos em Portugal, tivemos uma taxa de incidência que foi a mais alta do mundo em janeiro deste ano, e nunca houve uma pressão sobre os serviços pediátricos. Não podemos transpor o nosso raciocínio dos adultos para as crianças, porque são doenças diferentes”, argumenta.
Em relação a riscos futuros para as crianças que contraiam a doença, também não deixam este médico receoso. “Não há casos de ‘long covid’ em crianças com idade pediátrica e fica-se na dúvida se os efeitos serão da doença ou das medidas de restrição a que estão obrigadas”, questiona.
Francisco Abecasis resume a situação que vivemos em relação à vacinação das crianças como estando balizada numa dinâmica de “risco baixo e benefício baixo”.
E por fim, argumenta que a vacina que será dada “não é eficaz em relação à variante Ómicron que se está a tornar muito prevalente em muitos países”.
Por isso, e não havendo urgência de vacinar as crianças “devia-se aguardar para perceber se esta vacina cobre a variante Ómicron”.
“Se não o fizer, não devemos sujeitar 600 mil crianças a um ato médico que tem riscos apesar de muito baixos”, remata.