Os agricultores do Algarve estão preocupados com a seca na região. O que se passa?
17-01-2024 - 06:34
 • André Rodrigues

É a maior seca que há registo. A Agência Portuguesa do Ambiente criou um plano que prevê um corte de 70% no consumo de água para a atividade agrícola e de 15% para o consumo urbano, que inclui o setor do turismo.

Os agricultores do Algarve estão preocupados com a seca na região e alertam para quebras muito significativas, sobretudo na produção de citrinos, caso se confirmem as restrições ao consumo de água para a agricultura. Esta quarta-feira haverá decisões sobre este tema.

Afinal, o que se passa?

A situação de seca que atinge o Algarve está atingir proporções graves. É a maior seca de que há registo. As reservas das albufeiras estão no nível mais baixo de sempre e o mesmo acontece com as águas subterrâneas.

Neste cenário, a previsão aponta para uma disponibilidade de água para apenas oito meses.

Para que se tenha uma ideia, as seis albufeiras no Algarve estão, nesta altura, a um quarto da sua capacidade, ainda menos do que em igual período de 2023, que já foi um ano difícil em matéria de seca.

Por isso, torna-se urgente tomar medidas perante uma situação que é bastante complexa e que não se sabe quanto mais tempo poderá durar.

Esta quarta-feira haverá uma decisão sobre as medidas a tomar. O quê que pode acontecer?

Será preciso aguardar pelas conclusões da comissão que acompanha os efeitos da seca. O encontro desta tarde, em Faro, conta com a presença dos ministros do Ambiente e da Agricultura.

Seja como for, para mitigar os efeitos a seca, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) criou um plano que prevê um corte de 70% no consumo de água para a atividade agrícola e de 15% para o consumo urbano, que inclui o setor do turismo.

Que impactos é que isto pode ter?

Desde logo, os impactos mais significativos serão na agricultura. Os produtores de laranja do Algarve antecipam uma campanha desastrosa, com perdas tanto na quantidade como na qualidade.

E que consequências para os consumidores?

Aí responde a lei da oferta e da procura. A campanha de citrinos do ano passado teve um corte de 50% na produção, o que levou a ruturas de "stock" de laranjas nos supermercados durante o verão e o preço acabou por disparar.

Se este ano, a situação é ainda mais complicada, o cenário pode agravar-se.

Por isso, nesta altura, a prioridade é encontrar soluções imediatas para aumentar a água disponível.

Mas como é possível, se não há água suficiente?

A solução poderá passar pela a reativação de furos municipais, para alimentar as redes de distribuição, o que pode dar alguma folga às necessidades de rega das árvores de fruto.

Outra das possibilidades é o recurso a unidades de dessalinização de água.

A primeira grande central de dessalinização vai ser construída na zona de Albufeira e vai ter uma capacidade de 16 milhões de metros cúbicos de água.

Outra das soluções será o tratamento e reutilização de águas residuais para a rega de relvados e para os campos de golfe.

O golfe que é uma das principais atrações dos hotéis do Algarve. O problema é o grande consumo de água. Como é que os agricultores olham para isto?

Pedem sensatez na adoção de medidas, por considerarem que a estratégia da Agência Portuguesa do Ambiente para restringir o consumo de água não é equitativo. Em causa está a diferença nos cortes de consumo de água previstos para os outros setores.

De resto, o presidente da maior associação de produtores de citrinos do Algarve considera insultuoso que, num quadro de emergência como o que a região enfrenta, haja zonas em que seja permitido o consumo de 1.000 litros de água per capita, por dia.