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Miguel Cardoso

Regresso a Portugal? "Só como treinador principal"

02 dez, 2014

Miguel Cardoso, coordenador técnico da formação do Shakhtar Donetsk, termina contrato com o clube ucraniano no final da época e define metas, em entrevista a Bola Branca.  

Regresso a Portugal? "Só como treinador principal"

Tem 42 anos. Começou na formação do FC Porto com Ilídio Vale, actual adjunto de Fernando Santos, na selecção nacional. Em Portugal, Miguel Cardoso foi adjunto de Carlos Carvalhal, Jorge Costa e Domingos Paciência. No início da época passada foi convidado para a coordenação da pirâmide técnica do futebol jovem do Shakhtar. O balanço é positivo. “Claramente positivo”, enfatiza o treinador, em entrevista a Bola Branca. “São 20 meses a trabalhar no projecto desportivo que definimos em conjunto com a direcção do clube e o treinador Mircea Lucescu”, explica.

A estrutura técnica do Shakhtar está dividida em duas partes: "Uma Academia júnior com crianças até aos 13 anos e uma profissional na qual tenho maior responsabilidade e que envolve os jogadores dos sub-14 aos sub-21. Implementámos um modelo de jogo, de jogador, de treino e de comunicação”, detalha.

Plantel do Shakhtar com muitos brasileiros e nenhum português
O plantel principal do Shakthar tem 13 jogadores brasileiros. A opção “representa vitórias”, sustenta Miguel Cardoso. “Em dez anos com Lucescu, a equipa conquistou 15 troféus com um modelo de futebol com influência brasileira na sua parte ofensiva”, argumenta.

Miguel Cardoso acrescenta que “pela fantasia, velocidade e imprevisibilidade, os brasileiros trazem gente aos estádios e permitem espectáculo, alegria, festa e qualidade de jogo". "É a filosofia do treinador e a perspectiva do presidente do clube, Rinat Akhmetov. Um dirigente fantástico, apaixonado pelo futebol com um projecto desportivo e social. O clube tem uma campanha humanitária que distribui todos os dias ajudas na região de Donbass”, refere.  

O balneário do Shakhtar tem uma elevada percentagem de jogadores a falar a língua de Camões mas o clube não prevê a contratação de jogadores portugueses. “Temos uma pessoa que trabalha no scouting, Luís Gonçalves, e um brasileiro que jogou em Portugal, Ismaily (ex-Braga). A ideia de Lucescu é ter os brasileiros a trabalhar em conjunto com os ucranianos e desconheço que algum jogador português possa ser contratado, apesar de ter qualidade”, esclarece.

Jogos e treinos sem tradutor
Com 20 meses de Ucrânia, Miguel Cardoso tem registado uma boa adaptação á língua. “É um obstáculo que tento superar. Estou a conseguir dirigir os meus jogos sem necessitar de influência de tradutor. Desenvolvi competências na área da comunicação e não preciso de ninguém nas minhas tarefas diárias”, revela.

A situação política e económica do país é outro dos problemas que o clube tem sabido tornear. “Tivemos capacidade de adaptação. A equipa principal funciona em pleno com todos os jogadores. Na Academia também não tivemos a perda de um único jogador. Estamos deslocados de Donbass mas funcionamos em plano em Kiev e Poltava. Vou dividindo o meu tempo pelas duas cidades”, refere.

Futuro a definir no fim da época
O contrato de Miguel Cardoso, válido por dois anos, termina no final da presente época. “Quando acabar a época terei de fazer uma avaliação sobre o meu crescimento como profissional. Na minha carreira desportiva quero continuar a ter um desafio que me permita ser melhor e desenvolver competências. Em conjunto encontraremos um caminho seja qual for o sentido”, assume.

Depois de ter trabalhado em Portugal sempre como adjunto, Miguel Cardoso decidiu lançar-se autonomamente e não volta a atrás na opção. “Dei um passo consciente na perspectiva do desenvolvimento de uma carreira pessoal. Permanecer, voltar a Portugal ou ir para outro país, terá de ser sempre no sentido de crescimento”, sustenta.

A “marca” Ilídio Vale
De entre os treinadores com quem trabalhou, Miguel Cardoso destaca Ilídio Vale. “Marcou-me muito nos tempos de FC Porto. Foi uma referência no tempo mais precoce da minha carreira”, revela. Contudo, o técnico não esquece outros nomes. “Carlos Carvalhal, Jorge Costa e os muitos anos de convívio com Domingos Paciência. Estou agradecido a todos eles. E guardo ainda boas memórias de Costa Soares que já não está entre nós. É uma figura incontornável da formação em Portugal”, reforça.  

A 9 de Janeiro, Fernando Santos será julgado pelo Tribunal Arbitral do Desporto. Se o castigo não for anulado, Ilídio vale assumirá o banco da selecção nos jogos oficiais. “Com todo o respeito pelo seleccionador, o banco ficará muito bem entregue a Ilídio Vale”, afiança Miguel Cardoso.