Siga-nos no Whatsapp

O chocalho afina-se e quer ser Património da Unesco

23 mai, 2014 • Rosário Silva, com Lusa

É uma espécie de GPS do gado. A Unesco aceitou a candidatura da arte chocalheira portuguesa a Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.

O chocalho afina-se e quer ser Património da Unesco

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) aceitou, esta sexta-feira, a candidatura da arte chocalheira portuguesa a Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente.

"A Unesco confirmou-nos que a candidatura cumpre os requisitos para ser analisada. Lá para Setembro ou Outubro, se for necessário, vão começar a pedir-nos informações adicionais e, depois, em Fevereiro de 2015, se tudo estiver em ordem, segue para a comissão de especialistas", disse à Lusa o coordenador da candidatura, Paulo Lima.

Esta comissão, continuou Paulo Lima, mais para "o final de 2015", é que vai "avaliar e decidir se a arte chocalheira candidatada por Portugal, a par de dezenas de candidaturas de outros países, é ou não classificada".

A candidatura da arte de fazer chocalhos - uma espécie de GPS do gado - é promovido pelo Turismo do Alentejo, Câmara de Viana do Alentejo, Junta de Freguesia de Alcáçovas e por outros municípios que ainda têm fabricantes de chocalhos.

O chocalho afina-se
A arte e a técnica são provenientes do período romano. Os chocalhos, produto de um ofício tradicional em extinção, retratam um período de trocas culturais que se perderam no tempo mas não na história.

Dos 13 mestres chocalheiros que restam no país, nove têm mais de 70 anos e os outros têm entre 30 e 40 anos, mas nenhum tem aprendiz.

Os resistentes têm o seu epicentro na freguesia de Alcáçovas, no concelho de Viana do Alentejo.

Esta arte pode parecer simples, mas a "construção implica conhecimentos profundos, desde a música à serralharia do ferreiro", afirma Paulo Lima à Renascença.

"O chocalho é um objecto sonoro que tem de ser afinado. Há todo um saber, desde a escolha do metal até à afinação, que é uma arte única", recorda.

Arte a caminho das escolas
Há um plano de salvaguarda em curso bem como a vontade de  dinamizar esta arte, por exemplo, nas escolas.

A ideia agrada ao autarca local. O presidente da Câmara de Viana do Alentejo já mostrou abertura para inserir nas escolas do concelho oficinas de arte chocalheira.

Bernardino Bengalinha Pinto considera que está em causa a afirmação de um território e a valorização do seu património.

"Pensamos que é uma actividade que pode contribuir, também para a divulgação do nosso património e para o desenvolvimento da economia local", refere.

Paulo Lima confirma: "Apesar de o processo ser complexo, creio que é um negócio viável."