07 nov, 2024 - 14:17 • Maria João Costa
“A sala Fernando Lopes, se tiver três pessoas por dia, já é um milagre”, lamenta Paulo Branco. O produtor e diretor do LEFFEST – Lisboa Film Festival fala num “alheamento”, sente que há cada vez menos pessoas a ir ao cinema e quer, com o festival, voltar a chamar os espetadores para as salas.
Há um “alheamento neste momento do cinema e da produção cinematográfica atual”, diz Paulo Branco, ao Ensaio Geral da Renascença que acrescenta que “é contra isso” que está a “lutar”, daí ter criado um “evento”, porque sente que as novas gerações aderem melhor a um festival do que a estreias de cinema.
De 8 a 17 de novembro o LEFFEST propõe um cartaz recheado, a começar com dois filmes de peso. Serão exibidos “O Quarto ao Lado” de Pedro Almodóvar e “The Brutalist” de Brady Corbet no dia de arranque do festival, filmes que venceram o ouro e prata no Festival de Veneza.
Ao longo de 10 dias, o festival transforma o eixo da Avenida da Liberdade numa grande sala de cinema com a exibição de filmes, muitos deles que nunca chegam a salas de cinema, alerta Paulo Branco.
“Alguns deles [filmes], infelizmente, como está o estado da exibição cinematográfica, não chegarão às salas. Outros chegarão, mas passarão completamente desapercebidos. Portanto, nós queremos dar visibilidade aos filmes e só queremos é suscitar a curiosidade para que venham ao festival, porque vale mesmo a pena”, sublinha Branco.
No ano em que o LEFFEST completa 18 anos, Paulo Branco explica que além da competição, o festival apostou em algumas homenagens. "Todo o programa à volta do Kafka, temos cá um dos maiores encenadores de teatro, temos toda uma série de clássicos e de filmes para celebrar este personagem único e tão contemporâneo. Nós vivemos numa sociedade Kafkiana!", destaca.
Mas há também programação em torno dos 500 anos do nascimento de Camões, “entre ela a passagem do clássico do Leitão de Barros restaurado”, aponta Paulo Branco que destaca ainda a homenagem ao Miguel Gomes que venceu este ano o premio em Cannes com o filme “Grand Tour”.
Paulo Branco considera que um festival de cinema tem a obrigação de gerar pensamento crítica e por isso trouxe para o cartaz do LEFFEST um tema da atualidade, como o conflito no Médio Oriente, colocando o foco na situação da Palestina.
“Um festival de cinema, como nós o encaramos desde início, tem que estar também virado para o mundo. O que se passa na Palestina é algo de absolutamente inadmissível e uma tragédia única e incompreensível”, afirma Paulo Branco.
O produtor de cinema interroga-se: “Como é que um povo que sofreu um Holocausto no século passado, ele próprio está a provocar neste momento uma perfeita barbárie, para não chamarmos genocídio, ao povo palestiniano? Como é que um povo que se declara tolerante e sobretudo aberto à cultura chega a estes extremos? E qual é o futuro?”
Para o festival estão convidados vários defensores da causa palestiniana e historiadores na matéria que participarão em debates depois da exibição de filmes.
“A nossa reflexão vai ser sobre o que é a cultura palestiniana, o que é que são os Palestinianos. O que é que se passa com este povo que há mais de 50, 60 anos vive em situações absolutamente aterradoras”, diz Paulo Branco.
“Penso que era absolutamente essencial num festival haver essa reflexão, haver a mostra de atos culturais importantíssimos, desde filmes, a música, poesia, que mesmo assim, a resistência palestiniana tem conseguido fazer”.
Todo o programa do LEFFEST está disponível em https://leffest.com/