06 nov, 2024 - 13:53 • Jaime Dantas
Uma "notícia inacreditável" à qual "ainda está a aprender a reagir". É assim que reage o vencedor do Prémio Leya 2024, que foi entregue na manhã desta segunda-feira na sede da editora, em Lisboa.
À Renascença, Nuno Miguel Silva Duarte fala do romance que lhe valeu o prémio, "Pés de Barro". A narrativa debruça-se sobre a construção da ponte 25 de Abril e "a vida que se gerou em Alcântara, um bairro que foi completamente transformado pela chegada da ponte e pela sua construção".
Desta obra, o autor destaca o "paradoxo de um país que constrói uma ponte e uma guerra", referindo-se à guerra colonial, nos anos 60 do século passado.
Uma reflexão que considera ser especialmente positiva de ser feita esta segunda-feira, "o dia em que o Trump ganhou as eleições", diz o escritor.
O também publicitário lembra o "significado político" que a travessia sobre o rio Tejo tem nos dias de hoje, sendo utilizada "como argumento para validar determinadas políticas" e "uma série de revisitações ao passado que vão aumentando com o tempo"
"A história é mais ou menos circular e as pessoas vão voltando aos mesmos sítios, esquecendo-se de que já lá estiveram e que não correu bem", lembra o autor, que considera ser "uma boa altura para olhar para trás" e para "perceber que essas recordações não correspondem exatamente à realidade".
Ainda que "não tivesse essa pretensão", Nuno Duarte admite que o livro possa permitir essa reflexão, uma vez que "há uma parte da sua escrita em que se nota o mal-estar com o olhar romântico para o passado".
"Pés de Barro" sucede a "Não há Pássaros Aqui", de Vítor Vidal. O prémio Leya reconhece desde 2008 o talento da escrita nacional, tendo sido esta a edição com mais participantes (1123).