05 nov, 2024 - 15:11 • Maria João Costa
“Os artistas trabalham, porque não conseguem não trabalhar. É uma espécie de necessidade”, diz-nos Francisco Tropa. O artista que reúne pela primeira vez em Portugal a sua obra numa exposição monográfica explica que os criadores “não conseguem ficar quietos”.
É esta “inquietude de construir coisas”, como diz que o tem movido ao longo dos anos e que mostra agora na exposição que abre sexta-feira ao público no Museu de Serralves, no Porto.
ⒶMO-TE é uma exposição que ocupa três salas da ala direita do museu, explica Francisco Tropa ao Ensaio Geral da Renascença, mas que começa na biblioteca do museu onde estão as obras iniciais do artista.
“Tem assim um pouco o ambiente de um museu da ciência, com muitos objetos, alguns textos, imagens fotográficas. Nessa sala reúno esse núcleo de trabalho mais antigo”, descreve Tropa.
Nas outras salas do museu estão “dois projetos, um deles já antigo” e um projeto mais recente criado “nos últimos 4 anos”, explica o artista.
A exposição que pode ser visitada até 11 de maio de 2025, tem um título inspirado no tempo de escola de Francisco Tropa. “O título vem de um sítio que me marcou bastante, que foi a Escola António Arroio pela qual passei. Antes da minha geração houve um grupo de alunos que grafitou essa palavra na fachada e tornou-se num símbolo da própria escola, nesse gesto de transgressão”.
Nas palavras de Tropa este título da exposição reflete também, além dessa transgressão, um lado de “grande paixão” à arte. “É por isso que eu escolhi este título, por essa memória de infância e por outro, por ser uma palavra universal que vai tocar em dois pontos muito preciosos do fazer artístico”, explica.
Na exposição em que são mostradas obras em diferentes suportes, como escultura, desenho, gravura, mas também fotografia e filme, Francisco Tropa revela o lastro do tempo sobre o seu trabalho.
“O nosso olhar está sempre a mudar. Eu já não sou a mesma pessoa de há 20 e tal anos. O trabalho está em permanente mutação, e o meu olhar também, portanto olho agora para estes trabalhos e é uma sensação engraçada. Depois, é sempre assustador para qualquer pessoa ver o tempo a passar. Tem esse caráter também um pouco dramático. É sempre um retrato do tempo que passa”, explica o artista sobre a exposição que abre esta semana.