03 mai, 2024 - 00:58 • Miguel Marques Ribeiro com Agências
Uma equipa de investigadores fez uma reconstituição detalhada do rosto de uma mulher de Neandertal, permitindo perceber a aparência deste nosso antecipado quando viveu há cerca de 75 mil anos.
Para o efeito, os cientistas utilizaram os restos estilhaçados de um crânio recolhido na gruta Shanidar, no Iraque.
Quando foram encontrados, os ossos encontravam-se num estado precário, de tal forma que os investigadores tiveram primeiro de os fortalecer, antes de começar a reconstrução craniana.
O "puzzle" demorou um ano a terminar e só depois entraram em cena os paleoartistas especializados que criaram um modelo 3D realista.
A representação aparece num novo documentário da BBC Studios para a Netflix chamado "Os Segredos dos Neandertais", que examina o que sabemos sobre os nossos primos evolutivos extintos há cerca de 40 mil anos.
O crânio no qual o modelo se baseia foi localizado na caverna Shanidar, no Curdistão iraquiano. É um lugar emblemático da arqueologia, onde os restos mortais de pelo menos 10 homens, mulheres e crianças neandertais foram desenterrados na década de 1950.
Quando um grupo britânico foi convidado pelas autoridades locais, em 2015, deparou-se com um novo esqueleto – apelidado de Shanidar Z – constituído pela parte superior do corpo do indivíduo, que incluía a coluna, ombros, braços e mãos.
O crânio também estava praticamente intacto, mas comprimido numa camada de 2 centímetros de espessura, provavelmente devido a uma rocha que caiu do teto da caverna em algum momento passado.
"O crânio era basicamente achatado como uma pizza", disse à BBC o professor Graeme Barker, de Cambridge, que lidera as novas escavações no Iraque.
O estado dos restos mortais de Shanidar Z não permitiram responder de forma óbvia a algumas questões. Desde logo, o sexo do Neandertal.
Os ossos pélvicos teriam sido uma ajuda para o apuramento da verdade, mas não foram recuperados na parte superior do corpo.
Assim sendo, os investigadores confiaram em certas proteínas dominantes encontradas no esmalte dos dentes que estão associadas à genética feminina. A pequena estatura do esqueleto também apoia esta interpretação.
Outra questão prende-se com a idade com que Shanidar Z morreu. Os cientistas de Cambridge chegaram à conclusão de que o fim teria chegado por volta dos 40 anos, o que também é indicado pelos dentes desgastados quase até a raiz. A mulher Neandertal estaria a chegar ao fim natural da vida.
Durante muito tempo, os cientistas consideraram os Neandertais brutais e pouco sofisticados em comparação com a nossa espécie.
Mas essa visão foi transformada precisamente pelas descobertas realizadas em Shanidar.
A caverna é famosa por exibir o que parece ser algum tipo de prática funerária, o que indica um nível de sofisticação civilizacional até aí não atribuído aos Neandertais.