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Entrevista

Luís Jardim e Tina Turner. "Tocámos para 200 mil pessoas no Maracanã"

24 mai, 2023 - 22:44 • Ricardo Vieira

Em entrevista à Renascença, o produtor e músico português lamenta a morte da cantora Tina Turner, com quem trabalhou em estúdio e em digressão. Luís Jardim conta que a artista enviava prendas às suas filhas no Natal e recorda a amiga como uma "verdadeira roqueira".

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Luís Jardim: Tina Turner era uma verdadeira roqueira

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“A Tina Turner era uma cantora única, muito especial, uma verdadeira roqueira”, recorda Luís Jardim, o músico e produtor português que foi músico da “Rainha do Rock”, que morreu esta quarta-feira, aos 83 anos.

Em entrevista à Renascença, Luís Jardim diz que recebeu “com choque” a notícia da morte de Tina Turner, apesar de saber que a cantora norte-americana estava “muito doente”.

Como é que o percurso musical de Luís Jardim se cruzou com o de Tina Turner?

Comecei por gravar em estúdio, com ela, vários temas. Não como produtor, mas como músico. E depois um grande amigo meu, o baterista dela, pediu-me se podia tomar o lugar dele porque ele tinha outra digressão com outro artista. Fui aos ensaios da Tina, toquei com ela, ela gostou e durante três anos andei em tournée com ela. O primeiro concerto que eu fiz com ela foi em 80 e tal, no Rock in Rio.

Daí por diante andei quase três anos com ela em tournée. Simpatizámos um com o outro e ela pediu se me queria juntar à banda durante um tempo e assim aconteceu. As tournées são muito cansativas e eu tinha uma outra carreira como músico de estúdio e produtor, aguentei-me o máximo que pude, depois afastei-me, mas continuámos muito amigos.

No Natal ela enviava sempre presentes lá para casa, para mim e também para as minhas filhas, ela conhecia as minhas filhas e lembrava-se todos os anos de enviar uma oferta.

A Tina Turner era conhecida pelos seus concertos “explosivos”. Como era partilhar o palco com ela?

Eram momentos especiais. Nós tocamos em grandes concertos no Maracanã, foram 200 e tal mil pessoas, e em toda a parte. Um dos meus concertos favoritos foi em Atlanta, em 84 ou 85, uma cena mais pequena, era uma banda pequena e eu gosto muito desse concerto.

Trabalhei com muitos artistas, toquei em grandes concertos com muita gente e, portanto, estava acostumado a essa cena de grandes coisas, mas com a Tina era muito excitante, porque ela era muito, muito poderosa. Nós tocávamos normalmente duas horas, duas horas e um quarto. É claro que nem todos os artistas conseguem, especialmente com a força que ela tem no palco. Não sei como é que ela aguentava, francamente, as duas horas. Eu saía de lá morto. Eu perdia dois, três quilos por noite.

Que música é que gostava mais de tocar ao vivo com Tina Turner?

Você aí apanhou-me, sei lá, havia uma dúzia que gostava, mas aquela com que nós fechávamos foi um dos grandes êxitos dela: “River Deep, Mountain High”, era um tema que às vezes aumentava dez minutos em palco, a tocar a 130 bpm. Era cansativo, era como correr uma maratona. Era um espetáculo para nós músicos.

Adeus Tina Turner. Viva a "verdadeira roqueira"
Adeus Tina Turner. Viva a "verdadeira roqueira"

Como era a relação dela com os músicos em estúdio e em digressão?

Ela era próxima, mas muito exigente. Era muito exigente. Se não fazíamos exatamente como ela gostava, no dia seguinte, às vezes até no final do concerto, o agente dizia que a Tina queria falar connosco. Se a gente fizesse uma coisa que exagerasse um bocado... Ela era uma pessoa exigente, mas fora do palco era uma pessoa extraordinária.

Ainda se lembra da última conversa que teve com ela?

A última conversa que tive com ela? Foi há uns anos, na altura do Natal, quando ela já estava doente. Lembro que ela me ligou para desejar umas boas festas, que tinha enviado umas coisas para as minhas filhas e foi uma conversa de amigos.

Recorda-se de mais alguma história marcante?

No meu primeiro concerto ela pagou-me uma quantia grande. Tivemos a digressão de longos meses e estávamos no avião. Ela mandou um envelope com dólares. Eu verifiquei que tinha 300 dólares a mais. Eu disse ao pianista, que era o líder da banda, que ela se tinha enganado. Ele disse: “Queres um conselho, vai devolver os 300 dólares porque senão para a semana já não estás com a banda. Foi um teste para ver se eu era honesto.

Como resume a carreira de Tina Turner?

A Tina era uma artista única. Há outras grandes cantoras, mas a Tina era muito especial. A Tina era uma verdadeira roqueira. Vinha do gospel e da soul, no entanto, ela gostava era de rock e cantava rock. Era muito especial. Tinha uma voz muito especial, tinha uma aparência e uma imagem espetacular. Dançava, era muito exigente com a banda. Para ela, o ritmo era o mais importante.

Não há muitos artistas com quem eu tenha trabalhado que tenham tido a mesma alegria. Deixou uma grande marca, para mim e para o mundo inteiro.

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