06 dez, 2022 - 12:34 • Maria João Costa
Quantas vezes já passou na rua por alguém a tocar e a cantar? Quantas vezes já reparou que esperam por uma moeda em troca da sua arte? Isso mesmo inquietou a alma do realizador Luís Moya, que gravou o primeiro filme sobre músicos de rua.
“Por detrás da moeda” chega às salas de cinema dia 8 de dezembro e é um filme que retrata uma realidade, neste caso filmada na cidade do Porto. Em entrevista ao programa Ensaio Geral da Renascença, o realizador explica que “a ideia do filme surgiu em 2013” quase por acaso.
“Andava à procura de uma ideia e ela surgiu numa esplanada da cidade do Porto, enquanto almoçava com a minha mulher. Estava um individuo sentado no chão da rua, a tocar rock da velha escola, felicíssimo e, não sei porquê, levantei-me e fui lá falar com ele. Acabei por me sentar no chão a conversar e acabámos os dois por ficar a cantar um tema dos Pink Floyd”, conta Luís Moya sobre o processo que o levou ao filme.
O realizador lembra que foi um filme que levou “muito tempo de concretização”, cerca de cinco anos. Além do processo de procura pelos artistas, Luís Moya teve de conquistar a confiança dos músicos de rua, antes mesmo de pegar na câmara.
“Não os abordei logo com a câmara, apesar de o meu tempo ser escasso enquanto trabalhador independente e 'freelancer'. Fiz todo um trabalho de pré-produção. Fui para a rua com eles, antes mesmo de eles saberem que eu era realizador e que fazia os meus filmes”, recorda Moya.
“Por detrás da moeda” é um filme que mostra, explica o realizador, “músicos que tocam há 15, 20 anos nas ruas do Porto”.
“Nenhum deles usava telemóvel. Eu já sabia os sítios onde eles paravam e ia pela rua fora à procura deles”, relata o realizador que se sentava com os artistas no “chão da rua a conversar, e a cantar, até se estabelecer uma relação de amizade”. Só depois de criar esta ligação, indica Moya é abordava os músicos “no sentido de fazer um filme”.
“Por detrás da Moeda” tem como protagonista o líder de uma banda que nasceu nos anos 80 e que poderia hoje ainda existir, os Pippermint Twist. “Estamos a falar de uma banda com videoclips lançados. Lançaram o álbum numa coletânea do Rock Rendez-Vous. Foi uma banda que esteve em picardia com os Xutos e Pontapés na altura nos anos 80”, conta ao Ensaio Geral Luís Moya.
Segundo o realizador, que centrou o seu filme na história do vocalista dos Pippermint Twist, “hoje também poderíamos ouvir falar desta banda, além dos Xutos e Pontapés!”. Segundo Luís Moya, o protagonista do seu filme documental “tinha uma história muito engraçada".
"Nos anos 80, ele tinha estado nos grandes palcos. Só que os tempos eram complicados, e quem não tinha apoio familiar, a vida dava muitas voltas” e acabou nas ruas do Porto, explica o realizador.
Ao contrário do protagonista de “Por detrás da moeda”, que fez “uma passagem dos palcos para as ruas”, Luís Moya sente que com a estreia do seu filme em sala faz o percurso inverso.
“Chegar a uma sala de cinema, é parte de um sonho concretizado. Ponho-me em paralelo com os músicos de rua neste aspeto. Acabo por me retratar no filme, é a minha procura e busca pelos músicos de rua. Tal como eles andam com a guitarra debaixo do braço, eu ando com a camara debaixo do braço. Eles têm a vantagem que ainda fazem dinheiro a tocar, eu nem isso! Agora passado este tempo todo, com uma pandemia pelo caminho, ter o meu filme a chegar aos cinemas, enquanto realizador independente, é uma felicidade enorme. Estou grato e contente. Tanto eles, como eu, temos o nosso palco e estamos juntos!” diz satisfeito Luís Moya
O realizador independente venceu em 2013 o Prémio Cinema Português no Fantasporto. Com este filme sobre os músicos de rua já venceu outros prémios nacionais e internacionais, entre eles o de melhor documentário do Festival Paisagens ou o prémio especial num festival norte-americano.
Clique abaixo para assistir ao trailer do filme "Por detrás da moeda":