25 nov, 2022 - 12:59 • Maria João Costa
Nem tudo o que a pandemia trouxe foi mau, é o que prova ‘Rizoma’, a digressão que o músico brasileiro Lenine criou com o filho, o músico e produtor Bruno Giorgi, e que agora chega aos palcos portugueses.
Pai e filho tocam este sábado na Casa das Artes, em Miranda do Corvo, e no domingo na Casa da Música, no Porto, depois de na quinta-feira terem pisado o palco do Casino do Estoril.
Em entrevista à Renascença, Lenine, que acabou de recuperar de uma infeção por Covid-19, conta como este projeto musical familiar surgiu durante a pandemia.
“No Brasil nós tivemos conjugados pandemia e pandemónio”, critica Lenine, que acrescenta que “houve uma conjugação de coisas que impôs uma distopia, uma realidade medieval”. Foi neste contexto que surgiu o Rizoma.
“O Rizoma só pode ser idealizado e realizado porque somos pai e filho, e apesar de todo o isolamento mantivemo-nos íntimos. Na hora de idealizar um projeto nós já nos vínhamos exercitando, criando e fazendo música”, explica o músico que já venceu 6 Grammy Latinos.
Esta cumplicidade musical, entre Bruno Giorgi e Lenine já dura há 10 anos, quando o filho começou a produzir os discos do pai. Nas palavras de Lenine, Bruno “é um grande misturador e um grande masterizador” e neste caso foi o “grande fomentador do espetáculo”.
Questionado sobre a origem da palavra ‘Rizoma’ que nomeia esta digressão, o artista pernambucano indica que “além do conceito da Botânica” que dá a ideia de raiz, este ‘Rizoma’, “tem um conceito filosófico do Deleuze que tenta dar essa palavra ao momento da criação, quando no meio do caos se faz uma ordem”, explica o músico.
“É um conceito que nos aproxima muito. Somos pai e filho, e mais do que tudo construímos um espetáculo em que a gente exercita, cada vez que sobe no palco, novas experimentações com cada uma daquelas canções”, sublinha Lenine.
O público português para quem Lenine gosta de tocar por ter “uma compreensão” da língua, vai poder ouvir no alinhamento músicas como “Castanho”, “Martelo Bigorna”, “Leve e Suave”, “O dia em que faremos contato”, “Paciência”, entre outras.
Sem nunca esquecer que o primeiro concerto que deu em Portugal foi no Barreiro, Lenine conta que acredita no poder da arte. “A arte é uma alavanca transformadora. Continuo acreditando no que faço, na maneira como faço e para quem eu faço. A música que faço é a crónica que realizo para espalhar para as pessoas o meu dia-a-dia, através do meu olhar”.
Os olhos de Lenine veem com expetativa a mudança política no Brasil. Sobre Lula da Silva a quem apoiou publicamente na campanha diz: “Ele ainda não assumiu e já conseguiu mudar uma atmosfera violenta, cruel, canalha que esse ser que ainda é presidente que eu me nego a dizer o nome, porque acho o inominável, impôs a agente”
Na opinião do músico o Brasil “perdeu a alegria mundana que via em qualquer lugar”. Perante a vitória de Lula da Silva, Lenine considera que o país está num “momento de celebração” do qual “não deve abrir mão”.
Reconhece que agora o Brasil vive “um retorno a um caminho coletivo”. Nas palavras do trovador, o país “está num processo que vai demorar”, por considerar que as marcas de Bolsonaro foram “sistemáticas”. “Todos os órgãos reguladores foram destruídos e esfacelados, por isso tem muita coisa para fazer no dia primeiro de janeiro” lembra Lenine a Lula da Silva, depois de dizer que é preciso por em marcha “a maior tecnologia que o homem já inventou que é a tecnologia do afeto”.