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​Brasileira Andréa del Fuego com inspiração portuguesa para novo livro

22 jul, 2022 - 17:33 • Maria João Costa

A escritora brasileira Andréa del Fuego, que venceu o Prémio Saramago em 2011 com o livro “Os Malaquias”, tem novo romance editado em Portugal. “A Pediatra” conta a história de Cecília, uma médica com pouca vocação para crianças. Uma pediatra portuguesa deu o mote para a história.

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Enquanto tentava escrever um romance, que há cinco anos não saía, a escritora Andréa del Fuego viu nascer na sua cabeça um outro livro. “A Pediatra” chega agora às livrarias portuguesas pela Companhia das Letras, e tem como inspiração uma médica portuguesa com quem a escritora, vencedora do Prémio José Saramago em 2011, se cruzou numa viagem a Penela.

Em entrevista ao Ensaio Geral da Renascença, durante a Bienal do Livro de São Paulo, Andréa del Fuego conta que só consultou dois médicos quando começou a pensar o livro. A autora de “Os Malaquias” recorda que um desses médicos foi uma pediatra portuguesa, que conheceu em 2019 quando fez uma residência literária em Penela.

“Fiquei três semanas falando sobre literatura com crianças e idosos. Já estava a pesquisar áreas da medicina, porque teria que saber muita coisa para falar na voz de uma médica e tive a surpresa imensa de saber que uma das idosas que estava numa palestra que eu estava dando, era uma pediatra idosa”, recorda.

A esta portuguesa, Andréa del Fuego fez uma pergunta. “Uma pediatra, como mãe, consegue ser pediatra com os seus filhos?”, queria saber a escritora. Na resposta, Andréa del Fuego recebeu “uma gargalhada ótima” e a resposta: “É impossível! A gente esquece absolutamente tudo, toda a ciência é diluída”.

A “fala”, como lhe chama del Fuego, tornou-se “numa das cenas principais do livro, quase no final, e onde há uma espécie de transformação da personagem”.

A autora confessa que na altura “não sabia que isso estaria no livro”, até porque “ainda não tinha começado a escrever”, mas a ideia impôs-se na escrita. Outro dos pediatras com que Andréa del Fuego falou foi o médico do seu filho, que leva o nome José, porque a autora estava grávida dele quando venceu o Prémio José Saramago.

“Ao pediatra do meu filho quis saber o que se passava dentro do hospital dentro do Conforto Médico, que é uma sala de descanso dos médicos onde tiram a sua roupa, onde o médico deixa de ser médico, para ser ele. Esse lugar neutro, essa Suíça dentro do hospital sempre me deixou bastante curiosa, pensei em usá-lo no texto, mas ele foi muito protocolar, não quis me dizer muita coisa e pensei: não vou perguntar mais nada. Mas essa espécie de silêncio, também está lá”, explica a autora.

"Eu poderia ter um pseudónimo para cada livro"

Nesta conversa com o Ensaio Geral no Pavilhão de Portugal na Bienal de São Paulo, Andréa del Fuego faz questão de explicar que este seu novo livro, agora editado em Portugal, é muito diferente daquele que venceu o Prémio José Saramago em 2011.

“‘A Pediatra’ é muito diferente de ‘Os Malaquias’. Os meus livros são muito diferentes. Eu poderia ter um pseudónimo para cada livro. Não é uma escolha, simplesmente é com muita naturalidade que a linguagem acaba seguindo o tema”, diz-nos a autora.

“‘Os Malaquias’ é a partir da história da minha família. Os meus bisavós morreram cozidos por dentro por um raio que caiu numa casa e deixaram órfão o meu avô, e os meus tios-avós e para essa história, a prosa poética e o realismo mágico eram a linguagem para que eu pudesse falar dessa orfandade no mundo. Os personagens têm os nomes deles. ‘A Pediatra’ é uma mulher cujo pensamento não alcança grandes voos. Ela é uma neurótica pensando sempre na mesma coisa. É uma linguagem que tenta alcançar rapidez de um pensamento ansioso”, explica Andréa del Fuego.

“A Pediatra” é um “romance que foi escrito de uma forma muito rápida”, lembra a escritora que estava “há cinco anos a tentar escrever e encontrar o tom” de outro romance que não saiu.

“Saturada desse processo resolvi escrever um outro livro e nesse caso, na primeira voz de uma pediatra que não gosta de criança, uma mulher que também não gosta dos pais das crianças, e também não gosta das doenças das crianças”, conta a escritora brasileira, que já vendeu os direitos do novo livro para cinema e teatro.

No livro, em que a linguagem serve a história, Andréa del Fuego conta que Cecília, a pediatra, “evita qualquer coisa que se pareça com o envelhecimento, com a crise, a morte, a maturidade, a própria vida. Ele é muito encapsulada”.

Por isso, a escrita é de dentro da cabeça dessa personagem. “A gente tem acesso só ao pensamento dela, não exatamente à fala. A gente entra na mente dela, e vive um pouco essa mulher que tem uma profissão que não é a dela, nunca foi”.

Sem desvendar tudo sobre o livro, Andréa del Fuego indica que “num determinado momento uma criança em especial vai fazer com que ela não repense. Vai pegar num lugar distraído e essa criança é o filho do amante dela. Aí a história vai para um outro lugar”. Para saber o fim, basta procurar o livro nas livrarias portuguesas.

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