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Quando Bolsonaro atropela a literatura. “Está na hora de praticarmos vigilância cidadã”

02 jul, 2022 - 22:37 • Maria João Costa

A frase é da escritora Lilia Schwarcz. Já Valter Hugo Mãe gostaria de votar no Brasil. Portugal é tema na Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

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Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Foto: Maria João Costa/RR
Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Foto: Maria João Costa/RR

“Falamos de quem quando falamos do outro?”. A questão deu o mote para a conversa que abriu a programação de Portugal na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que juntou o escritor português Valter Hugo Mãe e os brasileiros Daniel Munduruku e Lilia Schwarcz. O “outro”, neste diálogo moderado pela curadora da programação do Pavilhão de Portugal, acabou por ser Jair Bolsonaro.

A três meses das eleições presidencias no Brasil sente-se na plateia uma urgência em falar de política. O auditório do Pavilhão de Portugal encheu-se de público para escutar os autores que começaram por falar do “outro” literário, mas que acabaram a falar de política.

O escritor Daniel Munduruku começou por dizer que hoje “é dificil ter uma visão do outro no Brasil”. O autor nascido em Belém do Pará, filho de povo indígena, apontou que nos 200 anos da independência do Brasil “é preciso celebrar a memória”.

“Depois da República vieram golpes, golpes até ao mais recente”, referiu o autor de literatura infanto juvenil. “A gente corre o risco de ter mais um pela frente”, alertou Daniel Munduruku referindo-se às eleições presidenciais de outubro.

“A gente transforma tudo em folclore. A gente até elege pessoas que se auto elegem mito. Temos que parar com isso. Temos que começar a pensar nummporjeto de pais, para isso tem de sofrer, celebrar menos a nossa cultura e pensar mais como vamos sair desse buraco em que entramos. A gente tem de pensar de facto em alternativas viáveis para o nosso país”, afirmou.

Nesta conversa com plateia cheia - e com muitos com livros na mão à espera de caçar um autografo - a autora brasileira Lilia Schwarcz destacou a oportunidade que as eleições presidenciais de outubro levantam.

“Vamos fazer de 2022 uma oportunidade”, desafiou a autora a plateia. Schwarcz deixou o repto: “Está na hora de praticarmos vigilância cidadã. O golpe é dado todos os dias por Jair Bolsonaro. É dado de tal maneira que nós naturalizamos”, admitiu a escritora.

“Não vamos naturalizar o golpe e não vamos deixar que Bolsonaro conte essa história cabotina e militar. Queremos acreditar num 7 de setembro que fala de liberdade e emancipação, que é o que nós precisamos nesse Brasil”, concluiu a autora que arrancou as primeiras palmas da sessão e que foi questionada no final por uma jovem sobre como a juventude brasileira pode participar nessa mudança no Brasil.

Valter Hugo Mãe, um dos escritores que gerou maior fila de autógrafos, acabou por não se conter e falar também de Bolsonoro. “Eu não voto no Brasil, mas tenho muita vontade de votar! Eu não vou dizer o sentido do voto, em quem especificamente. Eu acho que devem votar, sobretudo em quem não for Bolsonaro. Acho que devem votar em alguém que não tenha medo”, concluiu, arrancando de novo palmas do público.

Fora do pavilhão português, um burburinho grande. Muitos jovens enchem esta Bienal. É dificil circular nas ruas da feira, cada editora traz os seus escritores e cria um clima de verdadeiro festival. É o regresso da Bienal que esteve interrompida com a pandemia.

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